Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Gustavo Teixeira - Os Reis Magos

Sob a aparência de seus tão diletos versos alexandrinos, o poeta paulista nos oferece este soneto, cujo tema é extraído à narrativa bíblica contida em Mateus 2: 1-12 – a qual, aliás, nada diz sobre o nome e o número de magos que teriam visitado o recém-nascido, sendo deveras dubitável, ademais, a efetiva ocorrência do sucedido, mais se afigurando como um ornamento narrativo para conferir aderência a pretéritas profecias.

É que o Evangelho de Mateus, no que tange à Natividade, fala-nos de coisas que, em relação aos outros dois Evangelhos Sinóticos, ou estão ausentes – em Marcos – ou são descritas de modo significativamente diverso – em Lucas –, neste último caso, a enfatizar a presença de pastores (em vez de magos) e os motivos pelos quais a família da Galileia se encontrava em Belém.

J.A.R. – H.C.

 
Gustavo de Paula Teixeira

(1881-1937)

 

Os Reis Magos

 

Em camelos que em fila avançam lentamente,

Olhos fitos na estrela errante que os conduz,

Os três Reis Magos vêm do misterioso Oriente

Para entoar no presepe um cântico a Jesus.

 

Caudas de poeira arrasta o séquito imponente,

Que traz perfumes, ouro e pérolas de Ormuz,

Nos diademas reais de pedraria ardente

A Via-Láctea fulge, a aurora tremeluz.

 

Cruzam de Babilônia as plagas fabulosas.

Vales, montes, rechãs, veredas de urze ou rosas

Vencem desde que a aurora ergue o noturno véu.

 

Belém, enfim ... Maria aperta o Filho ao peito!

E, ofertando ouro, incenso e mirra, com respeito

Curvam-se os reis da Terra aos pés do Rei do Céu!


Adoração dos Reis

(Gerard David: pintor flamengo)


Referência:

TEIXEIRA, Gustavo. Os reis magos. In: __________. Poesias completas. Prefácio de Cassiano Ricardo. São Paulo, SP: Anhambi, 1959. p. 457-458.

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