Pervagando pela “via negativa” do conhecimento de Deus, o poeta inglês – também clérigo anglicano – aproxima-se de uma súmula desesperadora, na qual, paradoxalmente, a presença do divino é uma ausência tangível a ocupar os espaços vazios de nossa percepção, tanto mais que nada comparável às coisas que nos cercam: são-nos, decerto, desafiadoras as proposições definidoras, descritoras ou adjetivadoras desse Deus inefável!
Alguns dos versos do poema lembram-nos de passagens dos Evangelhos, como em João (20: 20; 27), quando Cristo expõe as suas mãos e o flanco a Tomé, para que creia no milagre de sua ressurreição: a tepidez do contato seria capaz de revelar o quanto a fé se mantém firme no pensamento daquele que crê em suas palavras.
J.A.R. – H.C.
R. S. Thomas
(1913-2000)
Via Negativa
Why no! I never thought other than
That God is that great absence
In our lives, the empty silence
Within, the place where we go
Seeking, not in hope to
Arrive or find. He keeps the interstices
In our knowledge, the darkness
Between stars. His are the echoes
We follow, the footprints he has just
Left. We put our hands in
His side hoping to find
It warm. We look at people
And places as though he had looked
At them, too; but miss the reflection.
Há Sussurros de Seus Caminhos
(Grace C. Bomer: pintora canadense)
Via Negativa
Não, absolutamente! Jamais pensei em outra coisa
Exceto que Deus seja aquela grande ausência
Em nossas vidas, o silêncio vazio
Interior, o lugar pelo qual andamos
À procura, não com a esperança de
Acercar-nos ou deparar-nos. Ele preenche
Os interstícios de nosso conhecimento, a escuridão
Entre as estrelas. Dele são os ecos
Que seguimos, os rastros há pouco
Deixados. Pomos nossas mãos em
Seu flanco, na esperança de o encontrarmos
Aquecido. Olhamos as pessoas
E os lugares como se ele também os tivesse
Olhado; mas extraviam-se os seus reflexos.
Referência:
THOMAS, R. S. Via negativa. In: ASTLEY,
Neil (Ed.). Staying alive: real poems for unreal times. 1st. ed. New
York, NY: Miramax Books, 2003. p. 429.