Sardenberg, parece-me, alude, no início
desde breve poema, à cena em que anjos sobrevoam Berlim – ainda dividida pelo
muro −, a velar por almas perdidas que sofrem e se desesperam em silêncio, com
destaque para dois deles que protagonizam “Asas do Desejo” (1987), película do
cineasta Wim Wenders. No filme, aliás, pode-se ver também o famoso “anjo” sobre
um pedestal – um dos principais cartões-postais da capital da Alemanha reunificada −, de fato,
uma representação da Deusa da Vitória.
Mais ao fim, o poeta menciona a
histórica esquina das avenidas ‘Friedrichstrasse’ com a ‘Unter den Linden’, onde
se bipartiam os lados oriental e ocidental de Berlim dividida pelo muro, área
hoje totalmente remodelada, a primeira a levar ao ‘Reichstag’ – o Parlamento
Federal −, e a outra, dominada pelo Portão de Brandemburgo, pela Ópera Estatal
e pela Embaixada da Rússia.
J.A.R. – H.C.
Izalco Sardenberg
Neto
(n. 1950)
Berlim
Sob o céu azul não vi
anjos,
mas fachadas
cinzentas
de dia e coloridas à
noite.
Vi o passado, via a
história
ardendo no Muro.
Vi duas cidades em
uma,
alma bifronte,
fratura
(não tão) exposta. Na
esquina da Friedrichstrasse
com a Unter den
Linden
meu coração hesita,
devo orientar-me
ou ocidentar-me?
Unter den Linden sob a chuva
(Lesser Ury: pintor
judeu-alemão)
Referência:
SARDENBERG, Izalco. Berlim. In:
__________. Remissão. 1. ed. São Paulo, SP: Amar-Amaro, 2019. p. 42.
❁
ELe é meu Vô! :)
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