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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Wélcio de Toledo - A necessidade de se fazer um poema

O poema surge de um tema, por mais corriqueiro ou inusitado que seja − o vazio, o ócio, o tédio, o cio: não exatamente uma derivada ontológica de todas as coisas, senão algo que expresse raridade, talvez até mesmo a apreensão de imagens ou representações antinômicas, mas jamais um denominador comum entranhado na lassidão dos dias.

O poeta entende que, dessa maneira, se poderá justificar a necessidade da redação de um poema, enquanto meio primaz de se capturar a poesia decantada sobre as páginas de nossas histórias, nomeadamente, tudo aquilo que se denomina por imaginação, melodia, emoção, ideia, pensamento, contingência: a poesia, assim, assemelha-se à beleza instantânea de um momento.

J.A.R. – H.C.

Wélcio de Toledo
(n. 1970)

A necessidade de se fazer um poema

A necessidade de um poema
Não vem do vazio, do ócio, do tédio ou do cio.

Vem do pleno desejo de extrapolar
Algo estranho ao momento, naquele momento.

É o grito silencioso e ensurdecedor
Que não cala.

É o absurdo do rito cotidiano que se transforma
Em coisa rara.

A necessidade de se fazer um poema
Vai além de ser o que há.

Está no olhar de quem quer enxergar
No vazio, no ócio, no tédio, ou no cio, um tema.

Um rio com pescadores
(Claude-Joseph Vernet: pintor francês)

Referência:

TOLEDO, Wélcio de. A necessidade de se fazer um poema. In: __________. Poemas, visões e outras viagens. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ: Editora Multifoco, 2012. p. 51. (‘futurArte: poesia’)

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