O poema surge de um tema, por mais corriqueiro
ou inusitado que seja − o vazio, o ócio, o tédio, o cio: não exatamente uma
derivada ontológica de todas as coisas, senão algo que expresse raridade,
talvez até mesmo a apreensão de imagens ou representações antinômicas, mas jamais
um denominador comum entranhado na lassidão dos dias.
O poeta entende que, dessa maneira, se
poderá justificar a necessidade da redação de um poema, enquanto meio primaz de
se capturar a poesia decantada sobre as páginas de nossas histórias,
nomeadamente, tudo aquilo que se denomina por imaginação, melodia, emoção,
ideia, pensamento, contingência: a poesia, assim, assemelha-se à beleza
instantânea de um momento.
J.A.R. – H.C.
Wélcio de Toledo
(n. 1970)
A necessidade de se
fazer um poema
A necessidade de um
poema
Não vem do vazio, do ócio,
do tédio ou do cio.
Vem do pleno desejo
de extrapolar
Algo estranho ao
momento, naquele momento.
É o grito silencioso
e ensurdecedor
Que não cala.
É o absurdo do rito
cotidiano que se transforma
Em coisa rara.
A necessidade de se
fazer um poema
Vai além de ser o que
há.
Está no olhar de quem
quer enxergar
No vazio, no ócio, no
tédio, ou no cio, um tema.
Um rio com pescadores
(Claude-Joseph Vernet:
pintor francês)
Referência:
TOLEDO, Wélcio de. A necessidade de se
fazer um poema. In: __________. Poemas, visões e outras viagens. 1. ed.
Rio de Janeiro, RJ: Editora Multifoco, 2012. p. 51. (‘futurArte: poesia’)
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