Amalgamando máximas de Pessoa
(1888-1935), Ovídio (43 a.C.-~18 d.C.) e Santo Agostinho (354 d.C.-430 d.C.), o
diplomata e poeta cearense reforça neste poema a ideia de que todo sonho é
consciente quando pautado por um sentido ético, com o que se reduz à
irrelevância qualquer afronta que se venha a experimentar em vida.
Diz o autor ainda, com acerto, que por
amor nem sempre se procede do modo mais digno. Contudo, penso eu, corre-se o
risco, em tal hipótese, de se aviltar o amor próprio, degenerando
desse modo um sentimento que, se for verdadeiro, não se impõe sob condições depreciáveis,
vis, rastejantes, abjetas. Pois como anota o apóstolo Paulo (1 Cor 13): “O amor
(...) não é ambicioso, não busca os seus próprios interesses, (...) não se
alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade (...)”.
J.A.R. – H.C.
Márcio Catunda Gomes
(n. 1957)
Um Verso
Se me fosse dado
escolher um verso apenas,
seria o “tudo vale a
pena se a alma não é pequena”.
Não se trata de “os
fins justificam os meios”,
lema dos
inescrupulosos.
É muito mais que “ama
e faz o que queres”.
Por amor nem sempre
se faz o mais digno.
Mas, se a alma não é
pequena,
não pode haver
proposta indecorosa.
Se a alma não é
pequena,
toda afronta é
irrelevante
e todo sonho é
lúcido.
Em: “Rosas de Fogo”
(1998)
Os quatro filósofos
(Peter Paul Rubens:
pintor flamengo)
Referência:
GOMES, Márcio Catunda. Um verso. In:
__________. Plenitude visionária: poemas selecionados. Lisboa, PT:
Companhia das Musas, 2007. p. 57.
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