O poeta encerra a obra em referência
com este poema, expressando o desejo de que o seu livro abrace a “verdade”, sem
história, inserta na totalidade de cada instante, em manifesta representação de
“estremecimento, cintilação, música”, como as “estrelas de imensa beleza”,
abstraídas aos efeitos corrosivos do tempo.
Um livro puro, com poemas a percutir o “céu
do coração”, vale dizer, a falar, talvez, mais pela emoção do que pela razão,
pleno − como toda a criação poética − de alusões, simbologias, imagens, tonalidades,
sonoridades, e que possa persistir em suas “verdades” no ontem, no hoje e no
amanhã, perante um público de todas as idades.
J.A.R. – H.C.
Juan Ramón Jiménez
(1881-1958)
Quisiera que mi libro
Quisiera que mi libro
fuese, como es el
cielo por la noche,
todo verdad presente,
sin historia.
Que, como él, se
diera en cada instante,
todo, con todas sus
estrellas; sin
que niñez, juventud,
vejez quitaran
ni pusieran encanto a
su hermosura inmensa.
¡Temblor, relumbre,
música
presentes y totales!
¡Temblor, relumbre,
música en la frente
− cielo del corazón −
del libro puro!
Natureza-morta com
pena, caneta e livros
(Camille (Fourdoin)
Le Mair: pintor francês)
Quisera que meu livro
Quisera que meu livro
fosse como o céu
durante a noite,
todo verdade
presente, sem história.
Que, como ele, se
desse em cada instante,
todo, com todas as
suas estrelas; sem
que infância,
juventude ou velhice tirassem
ou pusessem encanto à
sua imensa beleza.
Tremor, cintilação,
música
presentes e totais!
Tremor, cintilação,
música na frente
− céu do coração – do
livro puro!
Referência:
JIMÉNEZ, Juan Ramón. Quisiera que mi
libro. In: __________. Obras de Juan Ramón Jiménez. Piedra y cielo:
verso (1917-1918). 1. ed. Madrid, ES: Imprenta de Fortanet de Madrid, 1919. p.
170.
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