Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 4 de outubro de 2020

Pere Ribot - Trabalhei até me esgotar

Estou quase na mesma situação do ente lírico que se expressa sob a forma do poema abaixo: um bocado extenuado em razão, em parte, das atividades profissionais, mas, sobretudo, por motivo de uma insônia persistente, que já corre pelo terceiro ou quarto mês, sempre a me despertar em meio à madrugada, impedindo-me de retornar ao sono.

“Fatigado da jornada”, como o poeta, não diria que sou um “servidor inútil” já próximo ao jubilamento, mas que necessito, com urgência, de uma parada forçada, pois, de outro modo, o estresse poderá me provocar danos irreparáveis: quem sabe um ano sabático ou algumas viagens turísticas – mentais ou mesmo reais, em destinos há muito anelados!

J.A.R. – H.C.

Pere Ribot
(1908-1997)
Busto do poeta em
Breda (Catalunha)

He treballat fins a esgotar-me

He treballat fins a esgotar-me
de l’alba al vespre,
i he perdut carn i sang
per tal de retrobar-me i retrobar-vos
en el triomf dels cims
i ésser pedra de càntics, vent
de l’Esperit en l’abisme dels cossos.
He caminat damunt brases roents
i per camins difícils
on senyoregen arços i ortigues...
Amb les sandàlies plenes de pols
no he sentit el respir de les flors.
I, en en bell fons de mi mateix, m’he dit,
fatigat de jornada:
sóc un servent inútil!

O homem cansado
(Robert Dickerson: pintor australiano)

Trabalhei até me esgotar

Trabalhei até me esgotar
da aurora ao pôr do sol,
e perdi carne e sangue
para me reencontrar e reencontrar-vos
no triunfo dos cimos
e ser pedra de cânticos, vento
do Espírito no abismo dos corpos.
Caminhei sobre brasas ardentes
e por caminhos difíceis
onde imperavam sarças e urtigas...
Com as sandálias cheias de pó
não senti o respirar das flores.
E, no mais fundo de mim mesmo, me disse,
fatigado da jornada:
sou um servidor inútil!

Referência:

RIBOT, Pere. He treballat fins a esgotar-me / Trabalhei até me esgotar. Tradução de Stella Leonardos. Stella (seleção, tradução e notas). Antologia de poesia catalã contemporânea. São Paulo: Monfort, 1969. Em catalão: p. 60; em português: p. 61.

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