Diante da morte, toda experiência de
vida parece sem sentido, como a do presente caso, em que o corpo de um
recém-falecido sobre a neve – um soldado talvez, dada a curta biografia do
poeta −, em algum lugar da França, mesmo que ainda quente, já não consegue mover
os rijos membros: “futilidade” seria o vocábulo a melhor expressar a insignificância
do existir humano.
Para quem, como Owen, viu-se imerso num
campo de batalha sanguinário como o da Primeira Guerra Mundial, compreende-se bem o impacto que
tantas mortes logra produzir no espírito de quem as tem que suportar, sem o
devido tempo de assimilação mental: um trauma para o resto da vida – e, claro está,
somente para os que retornam incólumes das trincheiras!
J.A.R. – H.C.
Wilfred Owen
(1893-1918)
Futility
Move him into the sun
−
Gently its touch
awoke him once,
At home, whispering
of fields unsown.
Always it woke him, even
in France,
Until this morning
and this snow.
If anything might
rouse him now
The kind old sun will
know.
Think how it wakes
the seeds −
Woke once the clays
of a cold star.
Are limbs, so
dear-achieved, are sides
Full-nerved, − still
warm, − too hard to stir?
Was it for this the
clay grew tall?
− Oh, what made
fatuous sunbeams toil
To break earth’s
sleep at all?
A Via Submersa
(Frederick
Varley: pintor canadense)
Futilidade
Exponham-no a pleno
sol –
Seu toque suave
outrora o despertava,
Em casa, com os
sussurros dos campos por semear.
O sol sempre o
despertava, mesmo em França,
Até que sobreviesse
esta manhã coberta pela neve.
Se algo pudesse
despertá-lo agora,
O bom e velho sol o
saberá.
Pensem em como os
raios solares desadormecem as sementes –
Tal como, dantes, despertaram
as gredas de uma estrela fria.
Estão esses membros,
tão bem conquistados, os flancos
Repletos de nervos –
ainda quentes – tão difíceis de se mover?
Foi para isso que a
argila guindou-se às formas do mundo?
Oh, o que teria
levado os fátuos raios do sol a se afanarem
por romper em
definitivo o sono da Terra?
Referência:
OWEN, Wilfred. Futility. In:
UNTERMEYER, Louis (Comp.). A concise treasury of great poems: english
and american. 5th printing. New York, NY: Permabooks, 1961. p. 502.
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