Com um título que bem resume o que lhe
vai nos versos, este poema de Celaya discorre sobre o empreendimento poético
enquanto construção coletiva, em que uns parodiam e/ou sobrepõem glosas a
ideias de outros que lhes antecederam, exegese que se convalida nas asserções
levantadas pelo crítico literário norte-americano Harold Bloom (1930-2019), em
sua obra “A Angústia da Influência: uma teoria da poesia”, de 1973.
Aliás, a própria poesia pode ser objeto
de poesia – como exemplos vários já postados neste blog −, mesclando-se “anonimamente”
ao enorme acervo de valores que postulam transformar o estado de consciência
dos leitores em relação ao mundo que os cerca, ora formulando de outro modo estados,
físicos ou mentais, vezes sem conta já apreendidos pela palavra, outras tantas
a exibir o engenho da inventividade, da criatividade, da fecundidade imaginosa
do espírito humano.
J.A.R. – H.C.
Gabriel Celaya
(1911-1991)
Poesía, Sociedad
Anónima
Como yo no soy yo,
represento a cualquiera
y le presto mi voz a
quien aún no la tenga;
o repito otras voces
que siento como mías
aunque, hasta sin
querer, siempre de otra manera.
Parezco personal, mas
digo lo sabido
por otros hace
siglos. O quizás, ayer mismo.
Ojalá me repitan sin
recordar quien fui
como ahora yo repito
a un anónimo amigo.
¡Oh futuro perfecto!
No hay otra permanencia
que la de ser un eco
corregido por otros
que no sabrán mi
nombre, ni − espero − mi aventura.
Tampoco yo sé bien
quién habla en mi conciencia.
Si algún día un
muchacho nos plagia sin saberlo
y en él, lo ya
sabido, vuelve a ser un invento,
estaremos en él,
invisibles, reales,
como otros, ahora en
mí, son corazón de un ave.
Es eso, y no los
versos guardados en los libros,
lo que, venciendo el
tiempo, sin forma durará
en la obra colectiva
y anónima, aún en ciernes,
transformando y
creando conciencia impersonal.
De: “Operaciones
poéticas” [(1969-1971) 1971]
Memórias de ossos e
árvores 2
(tamanho menor)
(Sheryl Parsons:
artista canadense)
Poesia, Sociedade
Anônima
Como eu não sou eu,
represento qualquer um
e empresto a minha
voz a quem ainda não a tenha;
ou repito outras
vozes que sinto como minhas,
embora, mesmo sem
querer, sempre de outra maneira.
Pareço pessoal, mas
digo o que os outros
já sabiam há séculos.
Ou, talvez, apenas ontem.
Oxalá me repitam sem
recordar quem fui,
como agora eu repito um
amigo anônimo.
Oh, futuro perfeito!
Não há outra permanência
que a de ser um eco
corrigido por outros
que não saberão meu
nome, nem – espero – minha aventura.
Tampouco sei bem quem
fala em minha consciência.
Se algum dia um
menino nos plagia sem o saber
e, a bem dizer, o já
sabido volta a ser um invento,
nele estaremos,
invisíveis, reais,
como outros, agora em
mim, são o coração de um pássaro.
É isso, e não os
versos guardados nos livros,
o que, vencendo o
tempo, perdurará sem forma
na obra coletiva e
anônima, ainda em germinação,
transformando e
criando consciência pessoal.
De: “Operações
poéticas” [(1969-1971) 1971]
Referência:
CELAYA, Gabriel. Poesía, sociedade
anónima. In: __________. Antología poética. Edición de A. Chicharro
Chamorro. Madrid, ES: Alhambra Editorial, 1990. p. 131.
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