Neste breve mas significativo poema, o
poeta português pressupõe um infante a atirar uma pedra de modo rasante sobre
as águas de um rio, fazendo-a levantar esguichos por três vezes, até que, por
fim, afunde definitivamente rumo ao leito do caudal – como a vida, aliás, em
seu ciclo de (i) infância, (ii) maturidade, e (iii) velhice − ultimada pela
morte.
É assim que se parte esse rio, melhor
dizendo, esse fluxo vital, como uma ponte a ligar o estágio de puerícia à terra
firme de onde se contempla tudo quanto se experimentou ao longo da vida, quando
então se saberá se esta foi um estorvo ou uma existência plena de significados.
Enquanto lá não estamos, vale a pena apurar a nossa “percepção” sobre a quantas
anda a nossa vigente caminhada!
J.A.R. – H.C.
Pedro Mexia
(n. 1972)
Percepção
Entre mergulhos
uma pedra rasa salta
três vezes
na água.
E assim se divide,
assim se parte
o rio. A infância
dum lado. Do outro
a terra firme
onde isto se passou.
Pedra n’água I
(Emilia Amaro:
pintora húngara)
Referência:
MEXIA, Pedro. Percepção. In: REIS-SÁ,
Jorge; LAGE, Rui (Selecção, organização, introdução e notas). Poemas
portugueses: antologia da poesia portuguesa do séc. XIII ao séc. XXI. Prefácio
de Vasco Graça Moura. 1.ed. Porto, PT: Porto Editora, 2009. p. 2091.
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