Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Pedro Mexia - Percepção

Neste breve mas significativo poema, o poeta português pressupõe um infante a atirar uma pedra de modo rasante sobre as águas de um rio, fazendo-a levantar esguichos por três vezes, até que, por fim, afunde definitivamente rumo ao leito do caudal – como a vida, aliás, em seu ciclo de (i) infância, (ii) maturidade, e (iii) velhice − ultimada pela morte.

É assim que se parte esse rio, melhor dizendo, esse fluxo vital, como uma ponte a ligar o estágio de puerícia à terra firme de onde se contempla tudo quanto se experimentou ao longo da vida, quando então se saberá se esta foi um estorvo ou uma existência plena de significados. Enquanto lá não estamos, vale a pena apurar a nossa “percepção” sobre a quantas anda a nossa vigente caminhada!

J.A.R. – H.C.

Pedro Mexia
(n. 1972)

Percepção

Entre mergulhos
uma pedra rasa salta três vezes
na água.
E assim se divide,
assim se parte
o rio. A infância
dum lado. Do outro
a terra firme
onde isto se passou.

Pedra n’água I
(Emilia Amaro: pintora húngara)

Referência:

MEXIA, Pedro. Percepção. In: REIS-SÁ, Jorge; LAGE, Rui (Selecção, organização, introdução e notas). Poemas portugueses: antologia da poesia portuguesa do séc. XIII ao séc. XXI. Prefácio de Vasco Graça Moura. 1.ed. Porto, PT: Porto Editora, 2009. p. 2091.

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