O poema relaciona uma série de “axiomas”,
eis que postulados indemonstráveis, como nas ciências matemáticas – nas quais, aliás, o
poeta tem formação avançada, como pude constatar! −, a maior parte deles similar
a proposições reais aplicáveis à lógica ou a outras áreas do conhecimento formal,
a exemplo da lei do terceiro excluído ou da regra de alcance do conhecimento pela heteronomia.
Durante o sono, aos olhos do autor, é
que o universo se mostra em toda a sua beleza, a superar aquela que corre ao
calor dos dias. A bem da verdade, há sonhos aprazíveis, mas há ainda outros que
se manifestam como pesadelos. E dado que o belo não se identifica 100% com o ético
ou o estético, todos já sonhamos com situações abomináveis, ilegais ou imorais.
Em tais situações, talvez prefira a beleza dos dias (rs).
J.A.R. – H.C.
Roosevelt Bessoni e
Silva
(n. 1956)
Axiomas
entre dois
pensamentos
sempre existe um
terceiro não decifrado
uma pessoa entre
outras duas
nunca estará no centro
sempre estará mais
perto de um dos extremos
a racionalidade é
ilusão
pois não conseguimos
ordenar o passado
nem prever o futuro
o sorriso esconde a
palavra
e a palavra espanta o
sorriso
aquilo que falamos,
alguém já disse,
não importa a ordem,
se primeiro eu ou você
só quem não é mais
criança
é que sente cheiro de
infância no ar
a beleza dos dias nos
engana,
pois é durante a noite,
quando dormimos,
que o universo se
mostra em sua beleza extrema.
Retrato de dois
amigos
(Jacopo Carucci: pintor
italiano)
Referência:
BESSONI E SILVA, Roosevelt. Axiomas.
In: __________. Vida exata. Rio de Janeiro, RJ: Livre Expressão, 2012. p.
28.
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