A poetisa búlgara nos propõe uma “Ars
Poetica” pejada de urgência, de premência perante um dedutível regime político
não exatamente democrático, estando a falar pois, seguramente, de seu país
natal em meados do século passado. Tal é a razão de dirigir-se aos poetas, para
que escrevam os seus versos como se fossem os derradeiros, haja vista a dúvida
sobre a continuidade da existência, diante de um inseguro amanhã.
E mais: não há espaço para inverdades,
nem mesmo para jogos de gracejos, por menores que sejam, porquanto, pairando
ceticismo sobre o porvir, ninguém disporá de tempo para corrigir os seus
próprios erros. E assim, lavrados com sangue sobre a página à espera, cada um
dos poemas se parecerá a uma irreversível despedida.
J.A.R. – H.C.
Blaga Dimitrova
(1922-2003)
Ars Poetica
Всяко свое стихотворение
ти създавай като последно.
В твоя век, наситен със стронций,
зареден с тероризъм,
литнал с ултразвукова скорост,
мигновено идва смъртта.
Всяка своя дума изпращай,
както сетно писмо пред разстрел,
врязан зов в зида на затвор.
Нямаш право ти на лъжа,
даже на малка игра красива.
Няма просто време да имаш
свойта грешка сам да изправиш.
Лаконично и безпощадно
всяко свое стихотворение
с кръв написвай като прощално.
A jovem professora
(Jean-Siméon Chardin:
pintor francês)
Ars Poetica
Write each of your
poems
as if it were your
last.
In this century,
saturated with strontium,
charged with
terrorism,
flying with
supersonic speed,
death comes with
terrifying suddenness.
Send each of your
words
like a last letter
before execution,
a call carved on a
prison wall.
You have no right to
lie,
no right to play
pretty little games.
You simply won’t have
time
to correct your
mistakes.
Write each of your
poems,
tersely, mercilessly,
with blood – as if it
were your last.
(Translated from
Bulgarian to English by
Ludmilla G.
Popova-Wightman)
O carregador de
flores
(Diego Rivera: pintor
mexicano)
Ars Poetica
Redige cada um de
teus poemas
como se fosse o
último.
Em teu século,
saturado de estrôncio,
a voar em velocidade supersônica,
carregado de
terrorismo,
sempre mais súbita
chega a morte.
Envia cada uma de
tuas palavras
como a derradeira
carta de um fuzilado,
um apelo gravado no
muro do cárcere.
Não tens o direito a
mentir,
nem sequer a um pequeno
ludíbrio gracioso.
Simplesmente não
haverá tempo
para corrigir os teus
erros.
Concisa e implacavelmente,
redige cada um de teus
poemas com sangue,
como se uma despedida
fosse.
Referência:
DIMITROVA, Blaga. Ars poetica / Ars
poetica. Translated from bulgarian to english by Ludmilla G. Popova-Wightman. In:
__________. Scars / Белези: poems.
Selected and translated from bulgarian to english by Ludmilla G.
Popova-Wightman. 1st. ed.; 2nd. imp. Princeton, NJ: Ivy Press, 2003. Em
búlgaro: p. 24; em inglês: p. 25.
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