Uma forma de experimentar a pobreza ao
lado da pessoa amada, não a desejando propriamente – como os ricos, que não praticam
um jogo equilibrado de soma zero, mas assimétrico, com tudo para si e nada para
os outros −, e reconhecendo, seja como for, que, juntos, são a maior riqueza
jamais reunida sobre a terra.
Neruda identifica a miséria como um “dente
maligno que, até agora, tem mordido o coração do homem”, isto porque impede ver
no outro o mesmo semblante de humanidade a que aspira para si, prática tão
comum por estas plagas, onde a inflexão “você sabe com quem está falando?” é
regra, a explicar, deveras, o fato de Pindorama apresentar uma das piores
distribuições de renda do mundo!
J.A.R. – H.C.
Pablo Neruda
(1904-1973)
La pobreza
Ay no quieres,
te asusta
la pobreza,
no quieres
ir con zapatos rotos
al mercado
y volver con el viejo
vestido.
Amor, no amamos,
como quieren los
ricos,
la miséria. Nosotros
la extirparemos como
diente maligno
que hasta ahora ha
mordido el corazón del hombre.
Pero no quiero
que la temas.
Si llega por mi culpa
a tu morada,
si la pobreza expulsa
tus zapatos dorados,
que no expulse tu
risa que es el pan de mi vida.
Si no puedes pagar el
alquiler
sal al trabajo con
paso orgulloso,
y piensa, amor, que
yo te estoy mirando
y somos juntos la
mayor riqueza
que jamás se reunió
sobre la tierra.
En: “Las uvas y el
viento” (1954)
A viúva do pobre
oficial
(Peter Fendi: pintor
austríaco)
A pobreza
Ai, não queres,
assusta-te
a pobreza,
não queres
ir com sapatos rotos
ao mercado
e voltar com o velho
vestido.
Amor, não amamos,
como querem os ricos,
a miséria. Nós
a extirparemos como
um dente mau
que ainda agora morde
o coração do homem.
Mas eu não quero
que a temas.
Se chega por minha
culpa à tua casa,
se a pobreza expulsa
teus sapatos
dourados,
que não expulse teu
riso, pão da minha vida.
Se não podes pagar o
aluguel
vai ao trabalho em
passo orgulhoso,
e pensa, amor, que eu
te estou olhando,
e somos juntos a
maior riqueza
jamais reunida sobre
a terra.
Em: “As uvas e o
vento” (1954)
Referência:
NERUDA, Pablo. La pobreza / A pobreza.
Tradução de José Eduardo Degrazia. In: __________. Neruda para jovens:
antologia poética. Edição bilíngue. Organização de Isabel Córdova Rosas. Tradução
de José Eduardo Degrazia. 3. ed. Rio de Janeiro, RJ: José Olympio, 2013. Em
espanhol: p. 84; em português: p. 85.
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