Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Pablo Neruda - A pobreza

Uma forma de experimentar a pobreza ao lado da pessoa amada, não a desejando propriamente – como os ricos, que não praticam um jogo equilibrado de soma zero, mas assimétrico, com tudo para si e nada para os outros −, e reconhecendo, seja como for, que, juntos, são a maior riqueza jamais reunida sobre a terra.

Neruda identifica a miséria como um “dente maligno que, até agora, tem mordido o coração do homem”, isto porque impede ver no outro o mesmo semblante de humanidade a que aspira para si, prática tão comum por estas plagas, onde a inflexão “você sabe com quem está falando?” é regra, a explicar, deveras, o fato de Pindorama apresentar uma das piores distribuições de renda do mundo!

J.A.R. – H.C.

Pablo Neruda
(1904-1973)

La pobreza

Ay no quieres,
te asusta
la pobreza,

no quieres
ir con zapatos rotos al mercado
y volver con el viejo vestido.

Amor, no amamos,
como quieren los ricos,
la miséria. Nosotros
la extirparemos como diente maligno
que hasta ahora ha mordido el corazón del hombre.

Pero no quiero
que la temas.
Si llega por mi culpa a tu morada,
si la pobreza expulsa
tus zapatos dorados,
que no expulse tu risa que es el pan de mi vida.

Si no puedes pagar el alquiler
sal al trabajo con paso orgulloso,
y piensa, amor, que yo te estoy mirando
y somos juntos la mayor riqueza
que jamás se reunió sobre la tierra.

En: “Las uvas y el viento” (1954)

A viúva do pobre oficial
(Peter Fendi: pintor austríaco)

A pobreza

Ai, não queres,
assusta-te
a pobreza,

não queres
ir com sapatos rotos ao mercado
e voltar com o velho vestido.

Amor, não amamos,
como querem os ricos,
a miséria. Nós
a extirparemos como um dente mau
que ainda agora morde o coração do homem.

Mas eu não quero
que a temas.
Se chega por minha culpa à tua casa,
se a pobreza expulsa
teus sapatos dourados,
que não expulse teu riso, pão da minha vida.

Se não podes pagar o aluguel
vai ao trabalho em passo orgulhoso,
e pensa, amor, que eu te estou olhando,
e somos juntos a maior riqueza
jamais reunida sobre a terra.

Em: “As uvas e o vento” (1954)

Referência:

NERUDA, Pablo. La pobreza / A pobreza. Tradução de José Eduardo Degrazia. In: __________. Neruda para jovens: antologia poética. Edição bilíngue. Organização de Isabel Córdova Rosas. Tradução de José Eduardo Degrazia. 3. ed. Rio de Janeiro, RJ: José Olympio, 2013. Em espanhol: p. 84; em português: p. 85.

Nenhum comentário:

Postar um comentário