Pelo modo como se expressa neste poema,
o ente lírico, aparentemente, emprega uma homologia à conduta de um armadilho –
esquivo e protegido por uma “armadura” −, para transportá-la à esfera do
comportamento humano: somos expostos aos “atrativos” com que uma sociedade de
consumo busca nos cooptar, vencendo resistências e nos tornando conformistas.
O “armadilho” sofre as consequências do
“sonho americano”, sempre a veicular as possibilidades de profecias que, ao fim
e ao cabo, se mostram falsas. E, apenas por sorte, ainda não foi varrido do
mapa pelos caminhões de entrega, embora os efeitos danosos desse padrão de vida
sejam ostensivos em seu corpo – unhas, entranhas e “dobradiças”.
J.A.R. – H.C.
Yusef Komunyakaa
(n. 1947)
Night of the
armadillo
You huddle into a
shield or breastplate,
a whisper in the dark
summoning your kin
one by one along the frontier.
In your kingdom,
errant knight of
undergrowth, even in your gut
fear, you’re always
on the verge of a new border
or at the edge before
crossing into the interior
of false prophecies.
Desert blooms or berries
fall into marshy
hush. Around a sharp curve
planetary lights
spring out of nothingness.
How did you go wrong?
With only blind faith
& a dead star
left in your eyes, where’s North
America? You’ve been
around eons,
not knowing when
you’ve left one age
& entered
another, but I found your Olympus
of foolish odds in
the modern world.
Lovers in cars,
delivery trucks make leaves
tremble along the
roadside. If you know this,
little suitcase of
guts & nails,
you are still alive,
even with your broken
hinges.
Reflexos no Tatu
(Carlin Blahnik:
pintora norte-americana)
Noite do tatu
Você se aloja numa
toca ou armadura,
um sussurro na noite
convocando os seus pares
um a um ao longo da
fronteira. No seu reino,
cavalheiro errante do
mato, até em seu temor
mais íntimo, você
está sempre à beira de um novo limite
ou prestes a alcançar
o interior
de falsas profecias.
O deserto floresce e as amoras
caem num silêncio
lodoso. Em torno de uma curva brusca
luzes planetárias
surgem do nada.
No que você pecou?
Apenas com sua fé cega
& uma estrela morta
nos olhos, onde fica a América
do Norte? Você vem
atravessando eras,
sem saber quando saiu
de uma época
& entrou em
outra, mas eu encontrei o seu Olimpo
de coisas
insignificantes no mundo moderno.
Amantes nos carros,
caminhões de entrega fazem as folhas
tremerem à beira da
estrada. Se você sabe disso,
pequena mala de
entranhas & unhas,
é porque ainda está
vivo,
mesmo com as suas
dobradiças quebradas.
Referência:
KOMUNYAKAA, Yusef. Night of the
armadillo / Noite do tatu. Tradução de Flávia Rocha. In: Revista Brasileira.
Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro. Fase IX, Jan-Fev-Mar.2018, Ano
I, n. 94. Em inglês: p. 250; em português: p. 251. Disponível neste endereço. Acesso em: 30 set.
2020.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário