A voz lírica sente-se incomodada com o ribombar
dos sinos, reforçados ainda mais aos finais de semana, em razão do chamamento do
povo cristão às celebrações da eucaristia, isto porque as campas lhe interrompem
o sono, durante o qual, nos albores e neblina de uma segunda-feira,
imaginosamente, espera colhê-las “como frutos demasiado maduros e dá-los a
comer ao peixe-sino”.
Sem advogar contra os sinos, como
Kunze, recordo-me do encanto que é ouvir os carrilhões das torres da Basílica na praça-santuário, em Belém do Pará, marcarem a passagem das horas, ao longo do dia, a
tocarem as cifras de “Vós sois o lírio mimoso”, composição dedicada à Senhora de Nazaré, de autoria do maranhense Euclides Farias.
J.A.R. – H.C.
Reiner Kunze
(n. 1933)
Glocken allzu nah
Morgen für morgen
verheert ihr geläut
meinen schlaf, als
sei’s gottes wille, jene zu strafen,
die abends nicht einschlafen
können
in seiner welt
Sonntags eilen die
grossen glocken, den kleinen zu helfen
Sie läuten die gläubigen
aus den betten,
sie läuten die gläubigen
in die mäntel,
sie läuten läuten
An einem montag im
nebel werde ich die glocken pflücken
wie überreife früchte
und sie verfüttem an
den glockenfisch
Für das heil meiner
seele fürchte ich nicht
Heimlich wird für
mich bitten
der pfarrer. Er schläft
gem lang
Sinos na Basílica de
São Marcos em Veneza
(Edward John Poynter:
pintor inglês)
Sinos demasiado perto
Manhã após manhã o
seu toque devasta
o meu sono, como se
fosse vontade de deus castigar aqueles
que à noite não
conseguem adormecer
no mundo dele
Ao domingo
apressam-se os sinos grandes a ajudar os pequenos
Tocam os crentes para
fora das camas,
enfiam-nos a toque
nos casacos,
tocam tocam
Numa segunda-feira na
neblina hei-de colher os sinos
como frutos demasiado
maduros
e dá-los a comer ao
peixe-sino
Não temo pela
salvação da minha alma
Secretamente pedirá
por mim
o padre. Ele gosta de
dormir até tarde
Referência:
KUNZE, Reiner. Glocken allzu nah / Sinos
demasiado perto. Tradução de Luz Videira. In: __________. Poemas.
Traduções de Luz Videira e Renato Correia; introdução de Renato Correia. Edição
coordenada por Karl Heinz Delille. Porto, PT: Paisagem, 1984. Em alemão: p. 126;
em português: p. 127. (“Estudos Literários”; v. 1)
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