Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Reiner Kunze - Sinos demasiado perto

A voz lírica sente-se incomodada com o ribombar dos sinos, reforçados ainda mais aos finais de semana, em razão do chamamento do povo cristão às celebrações da eucaristia, isto porque as campas lhe interrompem o sono, durante o qual, nos albores e neblina de uma segunda-feira, imaginosamente, espera colhê-las “como frutos demasiado maduros e dá-los a comer ao peixe-sino”.

Sem advogar contra os sinos, como Kunze, recordo-me do encanto que é ouvir os carrilhões das torres da Basílica na praça-santuário, em Belém do Pará, marcarem a passagem das horas, ao longo do dia, a tocarem as cifras de “Vós sois o lírio mimoso”, composição dedicada à Senhora de Nazaré, de autoria do maranhense Euclides Farias.

J.A.R. – H.C.

Reiner Kunze
(n. 1933)

Glocken allzu nah

Morgen für morgen verheert ihr geläut
meinen schlaf, als sei’s gottes wille, jene zu strafen,
die abends nicht einschlafen können
in seiner welt

Sonntags eilen die grossen glocken, den kleinen zu helfen

Sie läuten die gläubigen aus den betten,
sie läuten die gläubigen in die mäntel,
sie läuten läuten

An einem montag im nebel werde ich die glocken pflücken
wie überreife früchte
und sie verfüttem an den glockenfisch

Für das heil meiner seele fürchte ich nicht

Heimlich wird für mich bitten
der pfarrer. Er schläft gem lang

Sinos na Basílica de São Marcos em Veneza
(Edward John Poynter: pintor inglês)

Sinos demasiado perto

Manhã após manhã o seu toque devasta
o meu sono, como se fosse vontade de deus castigar aqueles
que à noite não conseguem adormecer
no mundo dele

Ao domingo apressam-se os sinos grandes a ajudar os pequenos

Tocam os crentes para fora das camas,
enfiam-nos a toque nos casacos,
tocam tocam

Numa segunda-feira na neblina hei-de colher os sinos
como frutos demasiado maduros
e dá-los a comer ao peixe-sino

Não temo pela salvação da minha alma

Secretamente pedirá por mim
o padre. Ele gosta de dormir até tarde

Referência:

KUNZE, Reiner. Glocken allzu nah / Sinos demasiado perto. Tradução de Luz Videira. In: __________. Poemas. Traduções de Luz Videira e Renato Correia; introdução de Renato Correia. Edição coordenada por Karl Heinz Delille. Porto, PT: Paisagem, 1984. Em alemão: p. 126; em português: p. 127. (“Estudos Literários”; v. 1)

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