Em determinado ponto
do livro de ficção científica “Greybeard” (1965), do inglês Brian W. Aldiss
(1925-2017), vertida ao português, por Gilberto Bernardes de Oliveira, com o
título de “Jornada de Esperança”, encontra-se o personagem Charles Samuels a
elucubrar sobre o que representaria a vida, tomando por ponto de partida certo
excerto de um longo poema contido na obra “The complaint or night thoughts on
life, death and immortality” (“A queixa ou pensamentos noturnos sobre a vida, a
morte e a imortalidade”), redigida entre 1741 e 1745 pelo também inglês − e
poeta − Edward Young (1681-1765).
No ponto recitado
tem-se a fixação da ideia de que todos haverão de morrer um dia, mas, quem
sobre isso reflete, sempre se abstrai de pensar na própria morte,
vislumbrando-a apenas em terceiros: se, nalgum dia, depara-se com amigo ou
parente que foi singrar em outras paragens, pode lançar-lhe uma lágrima
ocasional, mas logo retornará à azáfama de viver, jamais cogitando num dia em
que o personagem principal da cena será ele próprio, acomodado num esquife.
J.A.R. – H.C.
Edward Young
(1683-1765)
Retratado por Joseph
Highmore
All men think
All men think all men
mortal but themselves:
Themselves, when some
alarming shock of fate
Strikes thro’ their
wounded hearts the sudden dread;
But their hearts
wounded, like the wounded air,
Soon close; where
pass’d the shaft, no trace is found,
As from the wing no
scar the sky retains,
The parted wave no
furrow from the keel,
So dies in human
hearts the thought of death.
E’en with the tender tear,
which nature sheds
O’er those we love,
we drop it in their grave.
Brian W. Aldiss
(1925-2017)
Todos pensam
Todos pensam que
todos menos eles são mortais:
Quando algum trágico
impacto do destino
Súbito lhes inflige
rude golpe;
Mas os corações
feridos, tal como o ar fendido,
Logo cicatrizam; não
deixa vestígio a lança.
Tal como as asas não
deixam sulcos no céu,
Nem a cortadora
quilha nas ondas que rompe,
Assim morre nos
humanos corações a ideia da morte.
Mesmo derramando uma
terna lágrima por aqueles
Que amamos, na
sepultura a deixamos.
Referências:
Em Inglês
YOUNG, Edward. All
men think all men mortal but themselves. In: __________. Night thoughts on
life, death and immortality. London, EN: Printed for J. G. & F. Rivington
and Other Proprietors, 1839. p. 12. Disponível neste endereço. Acesso em: 3 set.
2020.
YOUNG, Edward apud ALDISS,
Brian W. All men think all men mortal but themselves. In: __________. Greybeard.
London, EN: Faber and Faber, 1965. p. 65 do pdf. Disponível neste endereço. Acesso em: 3 set. 2020.
Em Português
ALDISS, Brian W.
Todos pensam que todos menos eles são mortais. Tradução de Gilberto Bernardes
de Oliveira. In: __________. Jornada de Esperança. Tradução de Gilberto
Bernardes de Oliveira. São Paulo, SP: Abril Cultural, 1982. p. 129-130. (Série
‘Grandes Sucessos’)
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