Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Edward Young - Todos pensam

Em determinado ponto do livro de ficção científica “Greybeard” (1965), do inglês Brian W. Aldiss (1925-2017), vertida ao português, por Gilberto Bernardes de Oliveira, com o título de “Jornada de Esperança”, encontra-se o personagem Charles Samuels a elucubrar sobre o que representaria a vida, tomando por ponto de partida certo excerto de um longo poema contido na obra “The complaint or night thoughts on life, death and immortality” (“A queixa ou pensamentos noturnos sobre a vida, a morte e a imortalidade”), redigida entre 1741 e 1745 pelo também inglês − e poeta − Edward Young (1681-1765).

 

No ponto recitado tem-se a fixação da ideia de que todos haverão de morrer um dia, mas, quem sobre isso reflete, sempre se abstrai de pensar na própria morte, vislumbrando-a apenas em terceiros: se, nalgum dia, depara-se com amigo ou parente que foi singrar em outras paragens, pode lançar-lhe uma lágrima ocasional, mas logo retornará à azáfama de viver, jamais cogitando num dia em que o personagem principal da cena será ele próprio, acomodado num esquife.

 

J.A.R. – H.C.

 

Edward Young

(1683-1765)

Retratado por Joseph Highmore

 

All men think

 

All men think all men mortal but themselves:

Themselves, when some alarming shock of fate

Strikes thro’ their wounded hearts the sudden dread;

But their hearts wounded, like the wounded air,

Soon close; where pass’d the shaft, no trace is found,

As from the wing no scar the sky retains,

The parted wave no furrow from the keel,

So dies in human hearts the thought of death.

E’en with the tender tear, which nature sheds

O’er those we love, we drop it in their grave.

 

Brian W. Aldiss

(1925-2017)

 

Todos pensam

 

Todos pensam que todos menos eles são mortais:

Quando algum trágico impacto do destino

Súbito lhes inflige rude golpe;

Mas os corações feridos, tal como o ar fendido,

Logo cicatrizam; não deixa vestígio a lança.

Tal como as asas não deixam sulcos no céu,

Nem a cortadora quilha nas ondas que rompe,

Assim morre nos humanos corações a ideia da morte.

Mesmo derramando uma terna lágrima por aqueles

Que amamos, na sepultura a deixamos.

 

Referências:

 

Em Inglês

 

YOUNG, Edward. All men think all men mortal but themselves. In: __________. Night thoughts on life, death and immortality. London, EN: Printed for J. G. & F. Rivington and Other Proprietors, 1839. p. 12. Disponível neste endereço. Acesso em: 3 set. 2020.

 

YOUNG, Edward apud ALDISS, Brian W. All men think all men mortal but themselves. In: __________. Greybeard. London, EN: Faber and Faber, 1965. p. 65 do pdf. Disponível neste endereço. Acesso em: 3 set. 2020.

 

Em Português

 

ALDISS, Brian W. Todos pensam que todos menos eles são mortais. Tradução de Gilberto Bernardes de Oliveira. In: __________. Jornada de Esperança. Tradução de Gilberto Bernardes de Oliveira. São Paulo, SP: Abril Cultural, 1982. p. 129-130. (Série ‘Grandes Sucessos’)

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