Com o título a referir-se à bruma – fenômeno que, de imediato, aponta
para muitos dos motivos a que os pintores da arte impressionista recorriam com
certa frequência –, de fato, o poema de Rodríguez mais se detém a descrever o
comportamento de gaivotas noturnas, que apreciariam estar envoltas em neblinas,
em nevoeiros.
Contudo, “gaivotas noturnas”, diríamos assim, mais não são do que
humanos cujo comportamento leva-os para longe dos raios de luz, fazendo-os embeber-se
em nostalgias e silêncios, acabando por cingi-los com o manto basto de uma vida
celibatária, sem descendentes, do que decorreriam – descreve-as o autor cubano –
experiências catárticas.
J.A.R. – H.C.
Félix Pita Rodríguez
(1909-1190)
Contribución al estudio de la bruma
A Gustavo Eguren
que las ha visto.
Las gaviotas
nocturnas son de austeras costumbres.
Generalmente anidan
en las ramas más altas
de los cierzos
perdidos del invierno. Se alimentan de escarcha,
de los frutos maduros
de la niebla, y de las taciturnas
flores de la
esperanza. Son calladas y mueren con frecuencia
víctimas de esa
fiebre de incurables nostalgias
que diezma a los
delfines más australes.
No tienen
descendencia.
Se reproducen solas,
de las plumas que pierden
las tormentas que a
veces se extravían,
cuando imprudentes cruzan,
sin las cartas de ruta,
por las noches
polares.
Jamás hablan de amor,
desconocen la guerra,
y tienen la costumbre de la duda.
Su extinción causaría
danos irreparables,
pues sólo ellas
conocen las fórmulas secretas
de las destilaciones
del sudor de agonía,
recogido en las
frentes de aquellos que murieron,
víctimas de la cólera
de las grandes tormentas,
en las noches más
frías.
Sudor que destilado
según las viejas fórmulas
que custodian severas
las gaviotas nocturnas,
produce los aceites
esenciales
con los que gota a
gota se fabrica la bruma.
De: “Historia tan natural” (1970)
Impressão do Amanhecer
Contribuição ao estudo da bruma
A Gustavo Eguren
que as viu.
As gaivotas noturnas
têm costumes austeros.
Geralmente se aninham
nos ramos mais altos
dos ventos perdidos
do inverno. Alimentam-se de geada,
dos frutos maduros da
névoa, e das taciturnas
flores da esperança.
São caladas e morrem com freqüência
vítimas dessa febre
de nostalgias incuráveis
que dizima os delfins
mais austrais.
Não têm descendência.
Reproduzem-se
sozinhas, das plumas que perdem
às tormentas que às
vezes se extraviam,
quando imprudentes
cruzam, sem bússola,
pelas noites polares.
Jamais falam de amor,
desconhecem a guerra,
e têm o costume da dúvida.
Sua extinção causaria
danos irreparáveis,
pois só elas conhecem
as fórmulas secretas
das destilações do
suor de agonia,
recolhido nas frontes
daqueles que morreram,
vítimas da cólera das
grandes tormentas,
nas noites mais
frias.
Suor que destilado
segundo as velhas fórmulas
que guardam severas
as gaivotas noturnas,
produz os azeites
essenciais
com os que gota a
gota se fabrica a bruma.
De: “História tão natural” (1970)
Referência:
RODRÍGUEZ, Félix Pita. Contribución al
estudio de la bruma / Contribuição ao estudo da bruma. Tradução de Alai Garcia
Diniz e Luizete Guimarães Barros. In: LEMUS, Virgilio López (Seleção, prefácio
e notas). Vinte poetas cubanos do século
XX. Tradução de Alai Garcia Diniz e Luizete Guimarães Barros. Edição bilíngue. Florianópolis, SC: Ed. da UFSC, 1995. Em espanhol: p. 102; em português: p.
103.
❁
Muito obrigado
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