Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 8 de março de 2020

Boris Pasternak - Mefistófeles

Um Mefisto dado a tropelias para transmutar a vontade humana rumo à malevolência, pregando peças junto a uma muralha, levando os cavalos da diligência a se aterrorizarem com seus insuspeitados espectros, para com isso se comprazer em gargalhadas zombeteiras.

Tudo sucede com Fausto em companhia do aludido príncipe das trevas, neste que é um poema que se associa tematicamente à obra de Goethe, em cujo contexto Deus e Satã porfiam pela alma do homem e, nessa aventura, Mefisto lança mão do mais que trivial apego humano às paixões rasteiras e demandas de ordem material.

J.A.R. – H.C.

Boris Pasternak
(1890-1960)

Мефистофель

Из массы пыли за заставы
По воскресеньям высыпали,
Меж тем как, дома не застав их,
Ломились ливни в окна спален.

Велось у всех, чтоб за обедом
Хотя б на третье дождь был подан,
Меж тем как вихрьвелосипедом
Летал по комнатным комодам.

Меж тем как там до потолков их
Взлетали шелковые шторы,
Расталкивали бестолковых
Пруды, природа и просторы.

Длиннейшим поездом линеек
Позднее стягивались к валу,
Где тень, пугавшая коней их,
Ежевечерне оживала.

В чулках как кровь, при паре бантов,
По залитой зарей дороге,
Упав, как лямки с барабана,
Пылили дьяволовы ноги.

Казалось, захлестав из низкой
Листвы струей высокомерья,
Снесла б весь мир надменность диска
И терпит только эти перья.

Считая ехавших, как вехи,
Едва прикладываясь к шляпе,
Он шел, откидываясь в смехе,
Шагал, приятеля облапя.

(1919)

Mefistófeles
(Benito Belli: pintor espanhol)

Mefistófeles

No domingo, todos despontaram
Da massa de poeira pela porta afora,
Enquanto a chuva, deixada a sós,
Atravessava a casa pelas janelas dos quartos.

Era comum que se alimentassem estando a chover
No mais tardar até o jantar;
Entrementes, um vórtice – como um biciclo –
Esvoaçava em torno dos aparadores internos.

Nesse entretempo, as cortinas de seda
Eram sacudidas até o teto,
E do lado de fora, em lagoas e sebes,
A tempestade fustigava os incautos.

O comboio mais longo então levou
O grupamento até a muralha,
Onde uma sombra que inquietava seus cavalos
Ganhava vida todas as noites.

Em meias cor de sangue, com um par de fivelas,
Ao longo da estrada banhada pela matinada,
Pendendo como tiras de um tambor,
Os pés do diabo levantavam sobejos.

Parecia que, tendo sido redemoinhado
Num fluxo de soberba pela folhagem caída,
A altivez do sol se desfaria em todo o mundo,
Embora as penas sequentes a custo tolerasse.

Prezando os viajantes apenas como marcos,
Mal se colocando o chapéu,
Afastou-se, dobrando-se em gargalhadas,
Caminhando junto com seu amigo.

(1919)

Referência:

ПАСТЕРНАК, Борис. Мефистофель. In: __________. Стихотворения и поэмы. Москва, Россия: Государственное издательство, 1961. стр. 67-68. (Художественной Литературы).

Nenhum comentário:

Postar um comentário