Num diálogo entre pai e filho – acerca de formigas que, percebendo uma mosca morta, arrastam-na para dentro do formigueiro, logo procurando outra em semelhante estado –, percebe-se a dúvida maior do menino sobre a origem de todas as coisas, pergunta para a qual, não tendo a humanidade resposta segura, atribui tamanho feito a Deus.
Mas a figura paterna acentua o caráter darwiniano da natureza, quase dispondo à mente do leitor o fundamento da Lei de Lavoisier: nada se perde no plano do meio ambiente, tudo se transforma. E o momento em que toda essa mutação findará configura uma outra dúvida, tão acerba quanto à do início do mundo. Estará um Demiurgo se divertindo às nossas expensas?...
J.A.R. – H.C.
Alfred Kreymborg
(1883-1966)
Ants
Who made the world, sir?
I don’t know, son –
See the ants on that hill with a fly.
Who made the world, sir?
Some say that God –
The fly is dead, son.
They’re dragging him to their hole.
Who made God, sir?
I don’t know –
Now he’s gone, son.
Ants are a tireless race.
Who made God, sir?
Observe how they swarm all over the hill.
They’re hunting another fly.
They’re funny, sir.
They are.
As Formigas
(Salvador Dalí: pintor espanhol)
Formigas
Senhor, quem fez o mundo?
Eu não sei, filho –
Veja as formigas, lá, e aquela mosca.
Senhor, quem fez o mundo?
Alguns dizem que foi Deus –
Filho, a mosca está morta.
Vão arrastá-la para o formigueiro.
Quem fez Deus, senhor?
Eu não sei –
Ela se foi, filho.
As formigas são bichos incansáveis.
Quem fez Deus, senhor?
Observe como elas formigam sobre a terra.
Estão à caça de outra mosca.
Elas são engraçadas, senhor.
Se são.
(Folhetim, 26.02.84)
Referências:
Em Inglês
KREYMBORG, Alfred. Ants. In: __________. Mushrooms: a book of free forms. New York, NY: John Marshall Co. Ltd., 1916. p. 36.
Em Português
KREYMBORG, Alfred. Formigas. Tradução de José Paulo Paes. In: SUZUKI JR., Matinas; ASCHER, Nelson (Organizadores). Folhetim: poemas traduzidos. São Paulo, SP: Folha de São Paulo, 1987. p. 62.
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