Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 22 de março de 2020

Hermann Hesse - Cemitério Rústico

A tranquilidade daqueles que já partiram deste mundo, frente à ânsia de viver, nomeada como um fogo forte: nos dísticos do poema de Hesse assoma o anelo de presença que as lápides dos mortos inspira na mente daqueles que presenciam o silêncio de um cemitério no meio rural, entrecortado pelo voo de abelhas, pela suavidade da luz do sol e pela fragrância suscitada pela hera.

Mas tudo ressurge para a vida outra vez, preservando o estado de perenidade, em meio ao estado cíclico de emergência e desaparecimento – e a memória conecta o que se sucedeu em vida dos que estão sob a terra, ao pensamento divagante dos que flanam pelas aleias do campo santo, esperando encontrar alguma paz de espírito.

J.A.R. – H.C.

Hermann Hesse
(1877-1962)

Ländlicher Friedhof

Über schiefen Kreuzen Efeuhang,
Sanfte Sonne, Duft und Bienensang

Selig Ihr, die ihr geborgen liegt,
An der guten Erde Herz geschmiegt

Selig, die ihr sanft und namenlos
Heimgekehrte, ruht im Mutterschoß!

Aber horch: aus Bienenflug und Blust
Atmet Lebensgier und Daseinslust

Aus der Tiefe Wurzelträumen bricht
Längst erloschener Wesen Drang ans Licht,

Lebenstrümmer dunkel eingescharrt
Wandeln sich und heischen Gegenwart

Und die Erdenmutter königlich
Rührt in drängenden Geburten sich

Nein, der Friedenshort im Grabesschacht
Wiegt nicht schwerer als ein Traum der Nacht;

Trüber Rauch nur ist der Traum vom Tod
Unter dem des Lebens Feuer loht.

A entrada do cemitério
(Caspar David Friedrich: pintor alemão)

Cemitério Rústico

Trepadeiras galgando as cruzes inclinadas,
sol manso, doce aroma e zumbido de abelhas.

Felizes de vós, que jazeis em segurança
aconchegados ao bom coração da terra!

Felizes de vós, que tranquilos e sem nome
descansais retornados ao seio materno!

Mas escutai: no voo de abelhas e nas flores
pulsa uma ânsia de vida e um prazer de existir,

do fundo sono das raízes vem à tona
o anelo da substância há longo tempo morta,

há destroços de vida enterrados no escuro
a se transfigurar e a clamar por presença,

e regiamente vai a mãe-terra cedendo
em meio à urgência de tão vários nascimentos.

Não: no fundo da cova o tesouro da paz
não pesa mais que um sonho no fundo da noite.

Turva fumaça apenas é a ilusão da morte,
e por trás dela a vida é que é o fogo forte.

Referências:

Em Alemão

HESSE, Hermann. Ländlicher friedhof. In: __________. Die gedichte. Zürich, SZ: Fretz & Wasmuth Verlag, 1942. s. 217.

Em Português

HESSE, Hermann. Cemitério rústico. Tradução de Geir Campos. In: __________. Andares: antologia poética. Tradução de Geir Campos. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1976. p. 80.

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