Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 17 de março de 2020

Jorge Luis Borges - Jactância de quietude

Viver entre mundos distintos, ou seria melhor dizer, entre culturas distintas, sem perder a sua própria identidade – essa é a ufania da quietude de Borges, a opor os que, por serem ambiciosos, se prendem à cidade e lá planejam a sua vida inteira, e aqueles que migram – ambos, de todo modo, expostos à inevitabilidade da existência temporal.

Para Borges, os ambiciosos jamais descansam e não têm um ponto de vista sublime sobre a pátria e a humanidade, assim como o próprio autor as vislumbra: “Minha pátria é um pulsar de guitarra, alguns retratos e uma velha espada”, e ainda, “Minha humanidade está em sentir que somos vozes de uma mesma penúria”.

J.A.R. – H.C.

Jorge Luis Borges
(1899-1986)

Jactancia de quietud

Escrituras de luz embisten la sombra, más prodigiosas que meteoros.
La alta ciudad inconocible arrecia sobre el campo.
Seguro de mi vida y de mi muerte, miro los ambiciosos y quisiera entenderlos.
Su día es ávido como el lazo en el aire.
Su noche es tregua de la ira en el hierro, pronto en acometer.
Hablan de humanidad.
Mi humanidad está en sentir que somos voces de una misma penuria.
Hablan de patria.
Mi patria es un latido de guitarra, unos retratos y una vieja espada,
la oración evidente del sauzal en los atardeceres.
El tiempo está viviendome.
Más silencioso que mi sombra, cruzo el tropel de su levantada codicia.
Ellos son imprescindibles, únicos, merecedores del mañana.
Mi nombre es alguien y cualquiera.
Paso con lentitud, como quien viene de tan lejos que no espera llegar.

Sons de Quietude
(Andrey Aranyshev: pintor russo)

Jactância de quietude

Arabescos de luz investem contra a sombra, mais prodigiosos que meteoros.
A alta cidade incognoscível expande-se sobre o campo.
Seguro de minha vida e de minha morte, observo os ambiciosos e quisera
entendê-los.
Seu dia é ávido como o laço no ar.
Sua noite é trégua da ira no ferro, pronto para atacar.
Falam de humanidade.
Minha humanidade está em sentir que somos vozes de uma mesma penúria.
Falam de pátria.
Minha pátria é um pulsar de guitarra, alguns retratos e uma velha espada,
a manifesta oração do salgueiral nos entardeceres.
O tempo a viver-me está.
Mais silencioso que minha sombra, cruzo o tropel obstinadamente cobiçoso.
Eles são imprescindíveis, únicos, merecedores da manhã.
Meu nome é alguém e qualquer um.
Caminho lentamente, como quem vem de tão longe e não se espera
a chegada.

Referência:

BORGES, Jorge Luis. Jactancia de quietud. In: MIRANDA, Rocío (Ed.). 24 poetas latinoamericanos. 1. ed. México, MX: CIDCLI, 1997. p. 28. (‘Coedicíon Latinoamericana’)

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