Viver entre mundos distintos, ou seria melhor dizer, entre culturas
distintas, sem perder a sua própria identidade – essa é a ufania da quietude de
Borges, a opor os que, por serem ambiciosos, se prendem à cidade e lá planejam
a sua vida inteira, e aqueles que migram – ambos, de todo modo, expostos à
inevitabilidade da existência temporal.
Para Borges, os ambiciosos jamais descansam e não têm um ponto de vista
sublime sobre a pátria e a humanidade, assim como o próprio autor as vislumbra:
“Minha pátria é um pulsar de guitarra, alguns retratos e uma velha espada”, e
ainda, “Minha humanidade está em sentir que somos vozes de uma mesma penúria”.
J.A.R. – H.C.
Jorge Luis Borges
(1899-1986)
Jactancia de quietud
Escrituras de luz
embisten la sombra, más prodigiosas que meteoros.
La alta ciudad
inconocible arrecia sobre el campo.
Seguro de mi vida y
de mi muerte, miro los ambiciosos y quisiera entenderlos.
Su día es ávido como
el lazo en el aire.
Su noche es tregua de
la ira en el hierro, pronto en acometer.
Hablan de humanidad.
Mi humanidad está en
sentir que somos voces de una misma penuria.
Hablan de patria.
Mi patria es un
latido de guitarra, unos retratos y una vieja espada,
la oración evidente
del sauzal en los atardeceres.
El tiempo está
viviendome.
Más silencioso que mi
sombra, cruzo el tropel de su levantada codicia.
Ellos son
imprescindibles, únicos, merecedores del mañana.
Mi nombre es alguien
y cualquiera.
Paso con lentitud,
como quien viene de tan lejos que no espera llegar.
Sons de Quietude
(Andrey Aranyshev:
pintor russo)
Jactância de quietude
Arabescos de luz
investem contra a sombra, mais prodigiosos que meteoros.
A alta cidade
incognoscível expande-se sobre o campo.
Seguro de minha vida
e de minha morte, observo os ambiciosos e quisera
entendê-los.
Seu dia é ávido como
o laço no ar.
Sua noite é trégua da
ira no ferro, pronto para atacar.
Falam de humanidade.
Minha humanidade está
em sentir que somos vozes de uma mesma penúria.
Falam de pátria.
Minha pátria é um
pulsar de guitarra, alguns retratos e uma velha espada,
a manifesta oração do
salgueiral nos entardeceres.
O tempo a viver-me
está.
Mais silencioso que
minha sombra, cruzo o tropel obstinadamente cobiçoso.
Eles são
imprescindíveis, únicos, merecedores da manhã.
Meu nome é alguém e qualquer
um.
Caminho lentamente,
como quem vem de tão longe e não se espera
a chegada.
Referência:
BORGES, Jorge Luis. Jactancia de
quietud. In: MIRANDA, Rocío (Ed.). 24
poetas latinoamericanos. 1. ed. México, MX: CIDCLI, 1997. p. 28.
(‘Coedicíon Latinoamericana’)
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