Os poetas às vezes podem se esconder, deliberadamente, por trás de versos que primam pela pouca definição, parecendo ir para um lado quando, de fato, derivam para outro. Guardadas as proporções, seria como se posicionassem em frente a uma tela e se dispusessem a pintar um quadro com características impressionistas, ou talvez fosse melhor dizer, surrealistas.
A propósito, Ammons emprega exatamente a metáfora da coloração para discorrer sobre o propósito manifesto de iludir o leitor, mesmo que para isso lance mão do mais aberrante dos efeitos, pois, em muitos casos, aquele que busca o prazer do poema nem percebe o sentido expresso em tais excentricidades.
J.A.R. – H.C.
A. R. Ammons
(1926-2001)
Evasive Actions
Poems are forms of protective coloration by which
a person insecure in his true colors takes trial
stances of coloration to imitate true colors or to
baffle detection, either by simple baffling or by
adopting disguise of common conventions or to
direct attention from his differences by putting
on the unconventional act, seeming to be normal by
open and flagrant imitation of the abnormal: how
is one to become invisible at times except by the
gaudiest announcements of visibility or how is one
to hide the truth except by the blinding of
truth on truth: how is one to put off
encounter except by puzzling the terms of encounter
past inquiry: poems, poems, how they sail!
catching sight up like a knowledge of enemies and
carrying it away under the pleasances of flight,
a riddance: or poems hold the attention of
others till they have no will of their own, lost,
enchanted, and with the impression that it is sweet
to be spelled lost: what shams, displays, fireworks
to throw scent off by sweet scent: what humbling
and pleading by the pitiful poet as he leads others
into the marshes of non pursuit: not to be found out,
so many poems left behind to be found: poems
say, bind yourself to me in the fidelities of
sameness, or in the trustworthy semblance of sameness,
a bond of friends: meanwhile, the true work is done.
Sem título
(Yevgenia Nayberg: pintora ucraniana)
Ações Evasivas
Os poemas são formas de coloração protetora mediante as quais
uma pessoa insegura de suas verdadeiras cores enceta ensaios
de coloração para imitar as cores verdadeiras ou para
confundir a detecção, seja por simples confusão ou
adotando o disfarce de convenções usuais ou ainda
para atrair a atenção em face de suas diferenças, assumindo
o ato não convencional, parecendo ser normal
pela aberta e flagrante imitação do anormal: como
alguém que, por vezes, consiga tornar-se invisível a não ser pelo
mais chamativo dos anúncios de visibilidade, como alguém que
busque esconder a verdade a não ser pelo ofuscamento da
verdade sobre a verdade: como alguém a evitar
o encontro a não ser pelo baralhamento dos termos do encontro
após a inquirição: poemas, poemas, como eles navegam!
capturando a vista como num reconhecimento de inimigos
distanciando-a para bem longe sob os deleites do voo,
um desembaraço: ou os poemas atraem a atenção
dos outros até que não tenham vontade própria, fiquem perdidos,
encantados, e com a impressão de que é doce
ficar perdido por encantamento: quantas imposturas, pompas, fogos de artifício
para desfazer-se de um aroma por meio de um suave aroma: quanta sujeição
e súplica do lamentável poeta ao guiar os outros
aos pântanos sem persecução: para não serem descobertos,
tantos poemas deixados para trás a serem encontrados: dizem
os poemas, une-te a mim nas fidelidades
da afinidade, ou na confiável aparência da afinidade,
um vínculo de amigos: enquanto isso, a verdadeira obra se realiza.
Referência:
AMMONS, A. R. Evasive actions. In: __________. Brink Road: poems. New York, NY: W. W. Norton, 1996. p. 84-85.
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