Temos aqui um poema que comporta interpretações diversas – algumas mais,
outras menos elusivas –, embora talvez a mais perceptível seja a de que a voz
lírica dedica-se a invocar o poder de identificação que temos com as emoções de
nossos pares, na alegria ou, melhor seria dizer, na melancolia (ou ainda, na tristeza).
Os referentes bíblicos e a dama em negro a chorar reforçam a ideia de
que o pranto dos presentes volta-se à lembrança de todos os que se foram
durante a guerra [importante: Werfel nasceu em Praga (CZ) de ascendência judaica] –
quando então soprou o vento gélido da indiferença –, e, caindo as lágrimas sobre o
fértil terreno do paraíso edênico, novos frutos podem assim se dedicar ao
desígnio do manar eterno.
J.A.R. – H.C.
Franz Werfel
(1890-1945)
Die Träne
Unter dem vogellosen
Himmel wilder Cafes
Sitzen wir oft, wenn
die Stunde der Schwermut schwebt,
Wenn der Schwärm der
Musik mit raschen Schlägen
Möwenhaft
Dicht uns am Ohr
vorüberstreicht.
Nirgend, wo sich der
Raum in Mauern drängt,
Tiefer blühet die
Pflanze der Fremde auf.
Schließt du die
Augen, so fahren zusammen
Eise des Pols,
Und es schluchzt der
alte Fjord.
öffne dich nun! Was
geschieht? Schlage die Augen auf!
Was zerbricht den
Tumult? Was ruft dem Wirbel Halt?
Dort an dem Tisch die
schwarze Dame,
Plötzlich erklingend
Weint sich das
Fräulein in seine Hände hin.
Was noch Alleinheit
war, wirft sich einander zu.
Und die weinende
Stimm bindend wird zum Gesetz.
Die Menschen stehen
alle und weinen,
Strömen heilig!
Selbst das Tablett in
der Hand des Kellners bebt.
Scherben wir alle,
werden im Weinen Gefäß.
Wer die Träne
erkennt, weiß der Gemeinschaft Stoff.
Ozean sind wir,
Brüder, und fahren,
Ewig fahren
Barken wir auf dem
Weltmeer des Herzens hin.
Schmerz des Einsamen,
du der Unsterblichkeit Kind!
Der Gottheit
liebliches Blut, unsere Träne, rinnt.
Ach wir begießen mit
unseren Tränen
Edens Beete,
Fruchtbar,
Geschwister, wird uns das Paradies.
As Lágrimas de Freya
(Gustav Klimt: pintor
austríaco)
A Lágrima
Sob o céu sem
pássaros de agitados cafés
Estamos sempre,
quando paira o instante da melancolia!
Quando o calor da
música com rápidos golpes
Como gaivotas
Roça bem junto ao
ouvido.
Em parte alguma onde
o espaço se espreme em muros
Desabrocha mais fundo
a planta da desconhecida.
Se fechas os olhos,
então viajam juntos
Gelos do polo,
E soluça o velho
fiorde.
Abre-te então! O que acontece?
Abre os olhos!
O que rompe o
tumulto? O que dá força ao turbilhão?
Está à mesa a dama
negra,
E de repente soa...
O choro da moça
escondida em suas mãos.
O que ainda era
solitude atira-se um ao outro.
E a voz chorosa
unindo torna-se lei.
Todas as pessoas
presentes choram,
Fluem sagradas,
Treme até a bandeja
na mão do garçom.
Cacos todos nós,
tomamos vasos no choro.
Quem reconhece a
lágrima sabe a matéria da comunhão.
Oceano somos, irmãos,
e vamos,
Vamos sempre,
Embarquemos no
mar-mundo do coração.
Dor do solitário, tu,
criança da imortalidade!
Suave sangue da
divindade, nossa lágrima corre.
Ah, com nossas
lágrimas molhamos
Canteiros edênicos,
Frutífero, irmãos,
torna-se o paraíso.
Referência:
WERFEL, Franz. Die träne / A lágrima.
Tradução de Claudia Cavalcanti. In: BECHER, Johannes R. et al. Poesia expressionista alemã: uma
antologia. Organização e tradução de Claudia Cavalcanti. Edição bilíngue
ilustrada. São Paulo, SP: Estação Liberdade, 2000. Em alemão: p. 224 e 226; em
português: p. 225 e 227.
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