Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 4 de março de 2020

Franz Werfel - A Lágrima

Temos aqui um poema que comporta interpretações diversas – algumas mais, outras menos elusivas –, embora talvez a mais perceptível seja a de que a voz lírica dedica-se a invocar o poder de identificação que temos com as emoções de nossos pares, na alegria ou, melhor seria dizer, na melancolia (ou ainda, na tristeza).

Os referentes bíblicos e a dama em negro a chorar reforçam a ideia de que o pranto dos presentes volta-se à lembrança de todos os que se foram durante a guerra [importante: Werfel nasceu em Praga (CZ) de ascendência judaica] – quando então soprou o vento gélido da indiferença –, e, caindo as lágrimas sobre o fértil terreno do paraíso edênico, novos frutos podem assim se dedicar ao desígnio do manar eterno.

J.A.R. – H.C.

Franz Werfel
(1890-1945)

Die Träne

Unter dem vogellosen Himmel wilder Cafes
Sitzen wir oft, wenn die Stunde der Schwermut schwebt,
Wenn der Schwärm der Musik mit raschen Schlägen
Möwenhaft
Dicht uns am Ohr vorüberstreicht.

Nirgend, wo sich der Raum in Mauern drängt,
Tiefer blühet die Pflanze der Fremde auf.
Schließt du die Augen, so fahren zusammen
Eise des Pols,
Und es schluchzt der alte Fjord.

öffne dich nun! Was geschieht? Schlage die Augen auf!
Was zerbricht den Tumult? Was ruft dem Wirbel Halt?
Dort an dem Tisch die schwarze Dame,
Plötzlich erklingend
Weint sich das Fräulein in seine Hände hin.

Was noch Alleinheit war, wirft sich einander zu.
Und die weinende Stimm bindend wird zum Gesetz.
Die Menschen stehen alle und weinen,
Strömen heilig!
Selbst das Tablett in der Hand des Kellners bebt.

Scherben wir alle, werden im Weinen Gefäß.
Wer die Träne erkennt, weiß der Gemeinschaft Stoff.
Ozean sind wir, Brüder, und fahren,
Ewig fahren
Barken wir auf dem Weltmeer des Herzens hin.

Schmerz des Einsamen, du der Unsterblichkeit Kind!
Der Gottheit liebliches Blut, unsere Träne, rinnt.
Ach wir begießen mit unseren Tränen
Edens Beete,
Fruchtbar, Geschwister, wird uns das Paradies.

As Lágrimas de Freya
(Gustav Klimt: pintor austríaco)

A Lágrima

Sob o céu sem pássaros de agitados cafés
Estamos sempre, quando paira o instante da melancolia!
Quando o calor da música com rápidos golpes
Como gaivotas
Roça bem junto ao ouvido.

Em parte alguma onde o espaço se espreme em muros
Desabrocha mais fundo a planta da desconhecida.
Se fechas os olhos, então viajam juntos
Gelos do polo,
E soluça o velho fiorde.

Abre-te então! O que acontece? Abre os olhos!
O que rompe o tumulto? O que dá força ao turbilhão?
Está à mesa a dama negra,
E de repente soa...
O choro da moça escondida em suas mãos.

O que ainda era solitude atira-se um ao outro.
E a voz chorosa unindo torna-se lei.
Todas as pessoas presentes choram,
Fluem sagradas,
Treme até a bandeja na mão do garçom.

Cacos todos nós, tomamos vasos no choro.
Quem reconhece a lágrima sabe a matéria da comunhão.
Oceano somos, irmãos, e vamos,
Vamos sempre,
Embarquemos no mar-mundo do coração.

Dor do solitário, tu, criança da imortalidade!
Suave sangue da divindade, nossa lágrima corre.
Ah, com nossas lágrimas molhamos
Canteiros edênicos,
Frutífero, irmãos, torna-se o paraíso.

Referência:

WERFEL, Franz. Die träne / A lágrima. Tradução de Claudia Cavalcanti. In: BECHER, Johannes R. et al. Poesia expressionista alemã: uma antologia. Organização e tradução de Claudia Cavalcanti. Edição bilíngue ilustrada. São Paulo, SP: Estação Liberdade, 2000. Em alemão: p. 224 e 226; em português: p. 225 e 227.

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