Aparentemente, a garota que estava em companhia de Bukowski, durante a
noite que se descreve no poema, adorava autores que pudessem despertar princípios
de sensualidade, explícitos ou simulados, à maneira dos que abundam nos escritos
de Henry Miller ou de Louis-Ferdinand Céline, ou mesmo nas melodias do
compositor norte-americano Charles Ives.
Pelo visto, não houve sexo nessa noitada, dada a desolação do poeta,
manifesta em suas derradeiras linhas – “era tudo que me restava naquela noite” –,
ainda mais depois de haver-se masturbado duas vezes, antes que a garota
estivesse ali, à sua disposição.
E olhe que, a julgar pelo paladar erótico da garota, as coisas poderiam ter
sido bastante tórridas: afinal, ela era louca para transar com Henry Miller,
logo ele cuja literatura é aquela torrente de cenas de sexo e obscenidades, já
no limiar da mais esclarecedora pornografia.
J.A.R. – H.C.
Charles Bukowski
(1920-1994)
dead now
I always wanted to
ball
Henry Miller, she
said,
but by the time I got
there
it was too late.
damn it, I said, you
girls
always arrive too
late.
I’ve already
masturbated
twice today.
that wasn’t his
problem,
she said. by the way,
how come you flog-off
so much?
it’s the space, I
said,
all that space
between
poems and stories, it’s
intolerable.
you should wait, she
said,
you’re impatient.
what do you think of
Celine?
I asked.
I wanted to ball him
too.
dead now, I said.
dead now, she said.
care to hear a little
music? I asked.
might as well, she
said.
I gave her Ives.
that’s all I had left
that night.
Retrato do Dr. Gachet
(Vincent van Gogh:
pintor holandês)
já morreu
sempre quis transar
com
Henry Miller, ela
disse,
mas quando cheguei lá
era tarde demais.
diabos, eu disse,
vocês
sempre chegam tarde
demais, garotas.
hoje já me masturbei
duas vezes.
não era esse o
problema dele,
ela disse. a
propósito
como você consegue
bater
tantas?
é o espaço, eu digo,
todo o espaço entre
os poemas e os
contos, é
intolerável.
você deveria esperar,
ela disse,
você é impaciente.
o que você pensa de Céline?
perguntei.
queria transar com
ele também.
já morreu, eu disse.
já morreu, ela disse.
importa-se de ouvir
uma
musiquinha?
perguntei.
pode ser legal, ela
disse.
dei-lhe Ives.
era tudo que me
restava
naquela noite.
Referências:
Em Inglês
BUKOWSKI, Charles. dead now. In:
__________. Love is a dog from hell:
poems, 1974-1977. Santa Barbara, CA: Black Sparrow Press, 1977. p. 255-256.
Em Português
BUKOWSKI, Charles. já morreu. Tradução
de Pedro Gonzaga. In: __________. O amor
é um cão dos diabos. Tradução de Pedro Gonzaga. Porto Alegre, RS: L&PM,
2014. p. 250-251. (Coleção ‘L&PM Pocket’, v. 888)
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