O poeta espera trazer de volta o coração ao peito, para ver fluir o
melhor do que a poesia é capaz de suscitar: até então, estivera ele contrafeito
em suas entranhas, corrompido por um demônio que lhe dominou a mente, os olhos
e as mãos, fazendo com que a sua voz fosse capaz de expressar apenas melancolia
e cruezas.
Mas a partir desta noite as coisas prometem melhorar, pois a libertação
do espírito favorece os voos da imaginação e já não há, como dantes, grilhões
capazes de arrefecer o fogo inspirador, subvertendo em fastio aquilo que, pela própria
natureza, é a mais autêntica das poesias: os versos brunidos por palavras
depuradas.
J.A.R. – H.C.
Yves Bonnefoy
(1923-2016)
Art de la Poésie
Dragué fut le regard
hors de cette nuit.
Immobilisées et
séchées les mains.
On a réconcilié la
fièvre. On a dit au coeur
D’être le cceur. Il y
avait un démon dans ces veines
Qui s’est enfui en
criant.
II y avait dans la
bouche une voix morne sanglante
Qui a été lavée et
rappelée.
Valores Pessoais
(René
Magritte: pintor belga)
Arte da Poesia
Dragado foi o olhar
para fora desta noite.
Imobilizadas e
secadas as mãos.
Reconciliada a febre.
Disse-se ao coração
Que fosse o coração.
Havia um demônio nessas veias
Que fugiu gritando.
Havia na boca uma voz
melancólica e sangrenta
Que foi lavada e trazida
de volta.
Referência:
BONNEFOY, Yves. Art de la poésie. In:
__________. New and selected poems.
Edited by John Naughton and Anthony Rudolf. A bilingual edition: french x
english. Chicago, IL: The University of Chicago Press, 1995. p. 84.
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