Antonio dos Santos Moraes (1920-?), poeta baiano, fez da vida um poema e, ao fim, viu o lume transformar-se em cinza: versos e versos compostos com o apoio de um cigarro aos lábios, absorção, recolhimento, circunspecção, tão comum é esse enredo no fluxo dos dias daqueles que se dedicam à arte da palavra.
“Longa arte” é a epígrafe do poema, esse pessoano desassossego, fogo íntimo que consome as entranhas do vate e que somente pela expressão verbal se atenua: plagiando a renomada fadista lusitana, muita tristeza é necessária para se fazer poesia de qualidade!
J.A.R. – H.C.
Estudo de um jovem
escrevendo sentado à mesa
(Autoria desconhecida)
Ars longa
Para fazer o poema que me visitava
acendi um cigarro
e antes de escrever o primeiro verso
ele era cinza.
Quando eu tinha vinte anos
acendi uma estrela
e antes que sua luz me alcançasse
vinte anos passaram
e mais vinte vieram
para a longa espera.
Quis escrever o poema que me consumia
e consumi a vida;
antes de terminar o primeiro verso
ela era cinza.
O pai do pintor sentado à mesa
(Antonio Bardi: pintor italiano)
Referência:
MORAES, Antonio dos Santos. Ars longa. In: __________. Poemas do hóspede. Rio de Janeiro, GB: Editora Luan, 1969. p. 13. (Editado com a colaboração do Instituto Nacional do Livro)
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