Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 7 de março de 2020

William Carlos Williams - O Lavrador

Williams sabia construir poemas que, em meio a simplicidade, abrigavam palavras capazes de despertar o leitor para o que nelas há de inusitado: veja-se lá que o lavrador já fez de tudo quanto poderia fazer para a sua colheita e, contudo, meditabundo está pelo tanto de tempo que haverá de esperar até que a plantação lhe traga resultados.

Há certas imagens frias e pressagiadoras que atravessam os versos do poema, sugerindo que as coisas podem transcorrer não exatamente como aguarda o lavrador: a possibilidade de chuvas sobre a plantação pode converter-se em insucesso, se em vez de uma tênue garoa advier um pampeiro devastador. Contra essa derradeira hipótese, compõe o lavrador uma partitura que se pretende ostensiva.

J.A.R. – H.C.

William Carlos Williams
(1883-1963)

The Farmer

The farmer in deep thought
is pacing through the rain
among his blank fields, with
hands in pockets,
in his head
the harvest already planted.
A cold wind ruffles the water
among the browned weeds.
On all sides
the world rolls coldly away:
black orchards
darkened by the March clouds –
leaving room for thought.
Down past the brushwood
bristling by
the rainsluiced wagonroad
looms the artist figure of
the farmer – composing
– antagonist

A aração outonal
(Grant Wood: pintor norte-americano)

O Lavrador

Perdido em pensamentos o
lavrador passeia sob a chuva
por seus campos vazios, mãos
nos bolsos,
na cabeça
a colheita já plantada.
Um vento frio vem encrespar a água
entre as ervas tostadas.
Por toda parte
o mundo rola friorento para longe:
negros pomares
escurecidos pelas nuvens de março –
deixando espaço livre aos pensamentos.
Lá embaixo, além da galharia
rente
ao carreiro encharcado de chuva
assoma a figura artista do
lavrador – compondo
– antagonista

Referência:

WILLIAMS, Wlliam Carlos. The farmer / O lavrador. Tradução de José Paulo Paes. In: __________. Poemas. Seleção, tradução e estudo crítico de José Paulo Paes. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 1987. Em inglês: p. 56; em português: p. 57.

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