O poeta, ao dormir, sonhou que havia se transformado numa videira que,
com os seus ramos, aos poucos apalpa e subjuga o corpo de sua amada. Mas quando
ele começa a gerar folhas para apor sobre as partes íntimas dela, fica
sobremodo excitado, vindo a acordar, quando então percebeu que uma parte dele
mais se parecia com um “tronco” – o falo, obviamente – do que com uma videira.
O orador do poema reconhece no assunto do poema um lapso momentâneo da
razão, parecendo sentir algum constrangimento ou perturbação moral no jogo luxuriante
das conquistas sexuais, dos atos libertinos ou mesmo das perversões eróticas,
ainda que os prazeres daí derivados apenas se limitem a momentos oníricos
fugazes.
J.A.R. – H.C.
Robert Herrick
(1591-1674)
The Vine
I dreamed this mortal
part of mine
Was metamorphosed to
a vine,
Which crawling one
and every way
Enthralled my dainty
Lucia.
Methought her long
small legs and thighs
I with my tendrils
did surprise;
Her belly, buttocks,
and her waist
By my soft nervelets were
embraced.
About her head I
writhing hung,
And with rich
clusters (hid among
The leaves) her
temples I behung,
So that my Lucia
seemed to me
Young Bacchus
ravished by his tree.
My curls about her
neck did crawl,
And arms and hands
they did enthrall,
So that she could not
freely stir
(All parts there made
one prisoner).
But when I crept with
leaves to hide
Those parts which
maids keep unespied,
Such fleeting
pleasures there I took
That with the fancy I
awoke;
And found (ah me!)
this flesh of mine
More like a stock
than like a vine.
O Vinhedo Vermelho
(Vincent van Gogh:
pintor holandês)
A Vinha
Sonhei que esta
mortal parte minha
Se metamorfoseara
numa vinha,
A qual, dando volta
sobre volta,
Cativara minha Lúcia
graciosa.
Assim, suas pernas e
quadris
Co’as minhas gavinhas
surpreendi;
Seu ventre, nádegas,
cintura,
Rodeei com minhas
brandas nervuras;
Em torno da cabeça,
eu serpente,
Grandes rácimos
(ocultos entre
As folhas) prendi às
suas têmporas.
Do jovem Baco era
Lúcia imagem,
Dele preso em sua folhagem.
No colo meus cachos a
envolviam,
De seus braços e mãos
restringiam
Os gestos (e ali um
só, dessarte,
Prisioneiro fizeram
tais partes).
Mas quando com folhas
fui tapar
As partes que as
donzelas do olhar
Alheio guardam, tanto
prazer
Eu tive que acordei
para ver,
(Ai de mim!) ver esta
carne minha
Feita mais um tronco
que uma vinha.
Referência:
HERRICK, Robert. The vine / A vinha.
Tradução de José Paulo Paes. In: PAES, José Paulo (Seleção, tradução,
introdução e notas). Poesia erótica em
tradução. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2006. Em
inglês: p. 110; em português: p. 111.
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