Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 28 de março de 2020

Robert Herrick - A Vinha

O poeta, ao dormir, sonhou que havia se transformado numa videira que, com os seus ramos, aos poucos apalpa e subjuga o corpo de sua amada. Mas quando ele começa a gerar folhas para apor sobre as partes íntimas dela, fica sobremodo excitado, vindo a acordar, quando então percebeu que uma parte dele mais se parecia com um “tronco” – o falo, obviamente – do que com uma videira.

O orador do poema reconhece no assunto do poema um lapso momentâneo da razão, parecendo sentir algum constrangimento ou perturbação moral no jogo luxuriante das conquistas sexuais, dos atos libertinos ou mesmo das perversões eróticas, ainda que os prazeres daí derivados apenas se limitem a momentos oníricos fugazes.

J.A.R. – H.C.

Robert Herrick
(1591-1674)

The Vine

I dreamed this mortal part of mine
Was metamorphosed to a vine,
Which crawling one and every way
Enthralled my dainty Lucia.
Methought her long small legs and thighs
I with my tendrils did surprise;
Her belly, buttocks, and her waist
By my soft nervelets were embraced.
About her head I writhing hung,
And with rich clusters (hid among
The leaves) her temples I behung,
So that my Lucia seemed to me
Young Bacchus ravished by his tree.
My curls about her neck did crawl,
And arms and hands they did enthrall,
So that she could not freely stir
(All parts there made one prisoner).
But when I crept with leaves to hide
Those parts which maids keep unespied,
Such fleeting pleasures there I took
That with the fancy I awoke;
And found (ah me!) this flesh of mine
More like a stock than like a vine.

O Vinhedo Vermelho
(Vincent van Gogh: pintor holandês)

A Vinha

Sonhei que esta mortal parte minha
Se metamorfoseara numa vinha,
A qual, dando volta sobre volta,
Cativara minha Lúcia graciosa.
Assim, suas pernas e quadris
Co’as minhas gavinhas surpreendi;
Seu ventre, nádegas, cintura,
Rodeei com minhas brandas nervuras;
Em torno da cabeça, eu serpente,
Grandes rácimos (ocultos entre
As folhas) prendi às suas têmporas.
Do jovem Baco era Lúcia imagem,
Dele preso em sua folhagem.
No colo meus cachos a envolviam,
De seus braços e mãos restringiam
Os gestos (e ali um só, dessarte,
Prisioneiro fizeram tais partes).
Mas quando com folhas fui tapar
As partes que as donzelas do olhar
Alheio guardam, tanto prazer
Eu tive que acordei para ver,
(Ai de mim!) ver esta carne minha
Feita mais um tronco que uma vinha.

Referência:

HERRICK, Robert. The vine / A vinha. Tradução de José Paulo Paes. In: PAES, José Paulo (Seleção, tradução, introdução e notas). Poesia erótica em tradução. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2006. Em inglês: p. 110; em português: p. 111.

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