O poeta, aparentemente, gosta de correr riscos, mesmo sabendo que a mulher por quem guarda profunda admiração “matou a amante do ex-marido alguns anos atrás”. Mas fazer o quê, se as emoções e os caprichos comandam a mente de alguns homens. De toda sorte, percebe ele que a vizinha tem apenas um amigo no prédio onde residem.
Mas, aparentemente, o amigo a que alude o poeta não é exatamente amante da moradora, pois, segundo as suas palavras, ela costuma trazer alguns garotos de programa para casa, aos finais de semana. E então a história se desenrola em inúmeras perspectivas, agora na mente do leitor: ilações, deduções ou inferências ficam por conta do internauta!
J.A.R. – H.C.
Fabrício Corsaletti
(n. 1978)
Vizinha
é uma senhora simpática
sem netos
sem cachorro
sem queixas contra
o horário de retirada do lixo
a data da dedetização
não conversa sobre o tempo
no elevador
não reclama do trânsito
anda a pé
é claustrofóbica
às vezes sobe de escada
sou fã
dos seus sapatos classudos
das luvas brancas no inverno
dos guarda-chuvas exóticos
dizem que nos fins de semana
traz garotos de programa
para casa
sabe-se que matou a amante
do ex-marido
alguns anos atrás
tem um único amigo no prédio
infelizmente não sou eu
Bons Vizinhos
(John William Waterhouse: pintor inglês)
Referência:
CORSALETTI, Fabrício. Vizinha. In: CALCANHOTO, Adriana (Org.). É agora como nunca: antologia incompleta da poesia contemporânea brasileira. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2017. p. 58-59.
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