Uma roda, por si só, já pressupõe o potencial para se pôr em movimento, girante, em círculos. Mas a roda do poeta se conecta à fixidez das ideias, aquilo que se repete como uma linha reta – e não exatamente em volutas. É como se fosse a busca do oposto pela persistência contra o que se mostra obcecado em persistir, rumo à mais pura abstração.
O título do poema induz o leitor a pensar sobre uma espécie de comportamento paranoico, monomaníaco, de alguém que somente pensa e reflete sobre uma única ideia ou tipo de ideias, à volta de um “labirinto surpreendente” do qual se mostra incapaz de escapar, afirmando-se pela negação da negação.
J.A.R. – H.C.
Duda Machado
(n. 1944)
Roda das ideias fixas
para João Alexandre Barbosa
Outros – no tempo –
compõem emblemas
com que me persigo
presenças perpetuadas
pela mais tenaz repetição
a engendrar a suprema
surpresa geométrica
de um labirinto interno
a uma linha reta
a mesma coisa concreta
cercada até sua abstração
ou afirmada ainda
pelo apego avesso
da via negativa
como a metáfora implícita
em liquidar com as metáforas
e aquela busca da hora
– impontual –
que é o fim de todas as horas
Personagem
(Pavel Tchelitchew: pintor russo)
Referência:
MACHADO, Duda. Roda das ideias fixas. In: MASSI, Augusto (Org.). Artes e ofícios da poesia. Porto Alegre, RS: Artes e Ofícios, 1991. p. 123.
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