Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 27 de março de 2020

Duda Machado - Roda das ideias fixas

Uma roda, por si só, já pressupõe o potencial para se pôr em movimento, girante, em círculos. Mas a roda do poeta se conecta à fixidez das ideias, aquilo que se repete como uma linha reta – e não exatamente em volutas. É como se fosse a busca do oposto pela persistência contra o que se mostra obcecado em persistir, rumo à mais pura abstração.

O título do poema induz o leitor a pensar sobre uma espécie de comportamento paranoico, monomaníaco, de alguém que somente pensa e reflete sobre uma única ideia ou tipo de ideias, à volta de um “labirinto surpreendente” do qual se mostra incapaz de escapar, afirmando-se pela negação da negação.

J.A.R. – H.C.

Duda Machado
(n. 1944)

Roda das ideias fixas

para João Alexandre Barbosa

Outros – no tempo –
compõem emblemas
com que me persigo

presenças perpetuadas
pela mais tenaz repetição
a engendrar a suprema
surpresa geométrica
de um labirinto interno
a uma linha reta

a mesma coisa concreta
cercada até sua abstração
ou afirmada ainda
pelo apego avesso
da via negativa

como a metáfora implícita
em liquidar com as metáforas
e aquela busca da hora
– impontual –
que é o fim de todas as horas

Personagem
(Pavel Tchelitchew: pintor russo)

Referência:

MACHADO, Duda. Roda das ideias fixas. In: MASSI, Augusto (Org.). Artes e ofícios da poesia. Porto Alegre, RS: Artes e Ofícios, 1991. p. 123.

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