Uma frase deste poema despertou-me a atenção particularmente: “Me desculpe o amor antigo por sentir o novo como primeiro”. Não é que o passado não tenha importância – mesmo porque a história tem algum peso –, mas para o momento é melhor concentrar-se no que está à nossa volta, vivenciar o amor com quem nos faz a diferença nos dias que correm.
Todos pensamos que os assuntos que nos dizem respeito são os mais importantes, mesmo atuando no domínio da intersubjetividade. Ora ora: é quase a mesma coisa que sobrelevar a importância da Terra em relação ao resto do universo, somente porque nela vivemos e nos julgamos superiores a quaisquer que sejam as vidas inteligentes que possam existir alhures. Isso faz algum sentido?!
J.A.R. – H.C.
Wisława Szymborska
(1923-2012)
Pod jedną gwiazdką
Przepraszam przypadek, że nazywam go koniecznoscia.
Przepraszam koniecznosc, jesli jednak się myle.
Niech sie nie gniewa szczescie, że biore je jak swoje.
Niech mi zapomna umarli, ze ledwie tla sie w pamieci.
Przepraszam czas za mnogosc przeoczonego swiata na sekunde.
Przepraszam dawna miłosc, ze nowa uwazam za pierwsza.
Wybaczcie mi, dalekie wojny, ze nosza kwiaty do domu.
Wybaczcie, otwarte rany, ze kluje sie w palec.
Przepraszam wolajacych z otchlani za płyte z menuetem.
Przepraszam ludzi na dworcach za sen o piatej rano.
Daruj, szczuta nadziejo, ze smieje sie czasem.
Darujcie mi, pustynie, ze z lyzka wody nie biegne.
I ty, jastrzebiu, od lat ten sam, w tej samej klatce,
zapatrzony bez ruchu zawsze w ten sam punkt,
odpusc mi, nawet gdybys był ptakiem wypchanym.
Przepraszam sciete drzewo za cztery nogi stołowe.
Przepraszam wielkie pytania za małe odpowiedzi.
Prawdo, nie zwracaj na mnie zbyt bacznej uwagi.
Powago, okaz mi wspaniałomyslnosc.
Scierp, tajemnico bytu, że wyskrobuje nitki z twego trenu
Nie oskarzaj mnie duszo, ze rzadko cię miewam.
Przepraszam wszystko, ze nie moge byc wszedzie.
Przepraszam wszystkich, ze nie umiem być kazdym i kazda.
Wiem, ze poki zyje, nic mnie nie usprawiedliwia,
poniewaz sama sobie na przeszkodzie.
Nie miej mi za złe, mowo, ze pozyczam patetycznych slow,
a potem trudu dokładam, zeby wydaly sie lekkie.
A estrela matinal: constelações
(Joan Miró: artista espanhol)
Sob uma estrela pequenina
Me desculpe o acaso por chamá-lo necessidade.
Me desculpe a necessidade se ainda assim me engano.
Que a felicidade não se ofenda por tomá-la como minha.
Que os mortos me perdoem por luzirem fracamente na memória.
Me desculpe o tempo pelo tanto de mundo ignorado por segundo.
Me desculpe o amor antigo por sentir o novo como primeiro.
Me perdoem, guerras distantes, por trazer flores para casa.
Me perdoem, feridas abertas, por espetar o dedo.
Me desculpem os que clamam das profundezas pelo disco dos minuetos.
Me desculpe a gente nas estações pelo sono das cinco da manhã.
Sinto muito, esperança açulada, se às vezes me rio.
Sinto muito, desertos, se não lhes devo uma colher de água.
E você, falcão, há anos o mesmo, na mesma gaiola,
fitando sem movimento sempre o mesmo ponto,
me absolva, mesmo se você for um pássaro empalhado.
Me desculpe a árvore cortada pelas quatro pernas da mesa.
Me desculpem as grandes perguntas pelas respostas pequenas.
Verdade, não me dê excessiva atenção.
Seriedade, me mostre magnanimidade.
Ature, segredos do ser, se eu puxo os fios das suas vestes.
Não me acuse, alma, por tê-la raramente.
Me desculpe tudo, por não poder estar em toda parte.
Me desculpem todos, por não saber ser cada um e cada uma.
Sei que, enquanto viver, nada me justifica
já que barro o caminho para mim mesma.
Não me julgue má, fala, por tomar emprestado palavras patéticas,
e depois me esforçar para fazê-las parecer leves.
Referência:
SZYMBORSKA, Wisława. Pod jedną gwiazdką / Sob uma estrela pequenina. Tradução de Regina Przybycien. In: __________. Poemas. Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien. Edição Bilíngue. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. Em polonês: p. 126-127; em português: p. 50-51.
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