Czeslaw Milosz, o compilador da obra de onde extraí o poema abaixo, tece
o seguinte comentário sobre ele, de forma sucinta e precisa: “O poema de James
Tate é, até certo ponto, uma sátira sobre a profissão do escritor e uma conexão
entre o amor próprio e o ímpeto para criar” (MILOSZ, 1998, p. 251).
O símio acha-se ao nível da animalidade, mas para escrever poesia, tem
que se alçar a um deus, um criador, transcendendo o mundo físico do ser: Tate
contrasta o mundo interior – o mundo de um ser humano – e o mundo exterior – o
mundo da natureza, do qual o mico toma parte; para que este evolua até aquele, faz-se
necessário alcançar a etapa da cognição e da representação da linguagem, de
forma a poder expressar pensamentos, sentimentos e intuições. Desse
modo, logrará sucesso em aproximar-se do firmamento índigo da condição
humana...
J.A.R. – H.C.
James Tate
(1943–2015)
Teaching the ape to write
They didn’t have much
trouble
teaching the ape to
write poems:
first they strapped
him into the chair,
then tied the pencil
around his hand
(the paper had
already been nailed down).
Then Dr. Bluespire
leaned over his shoulder
and whispered into
his ear:
“You look like a god
sitting there.
Why don’t you try
writing something?”
Bacchus
(Martin Wittfooth:
pintor canadense)
Ensinando o macaco a escrever
Eles não tiveram
muitas dificuldades
em ensinar o macaco a
escrever poemas:
primeiramente o
amarraram a uma cadeira,
depois prenderam o
lápis em torno de sua mão
(o papel já havia
sido fixado).
Então o Dr. Bluespire
inclinou-se sobre o seu ombro
e lhe sussurrou ao
ouvido:
“Você parece um deus
sentado aí.
Por que não tenta
escrever algo?”
Referência:
TATE, James. Teaching the ape to write.
In: MILOSZ, Czeslaw (Ed.). A book of
luminous things: an international anthology of poetry. 1st. ed. New York,
NY: Houghton Mifflin Harcourt, 1998. p. 251.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário