Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 5 de janeiro de 2019

Múcio Teixeira - A Estrela dos Magos

Com cinco quadras a reescreverem a história bíblica do nascimento de Jesus, não saberia dizer, mais precisamente, se este poema é, originalmente, do escritor e poeta gaúcho ou se trata de uma “versão” – digo, tradução ou paráfrase – de um outro poema que, de todo modo, não terá sido mencionado na obra em referência de Múcio.

Afinal, a palavra “versão”, por ele aposta sob o título do poema, também pode ser interpretada como se o autor quisesse informar ao leitor que o seu poema é mais uma glosa, sob a forma de poesia, dos fatos narrados na Bíblia.

Como nota particular, faço ver que o poema consta na seção “Os Precursores” de “Terra Incógnita” (1916) – uma obra permeada por questões místicas, esotéricas e ocultistas –, junto com outros poemas cujos títulos, em sua maior parte, são nomes de outros tantos humanos que, a seu ver, seriam antecessores das mensagens que o livro busca veicular, a exemplo de Hermes Trimegisto, Moisés, Sócrates, Helena Blavatsky e o próprio Cristo.

J.A.R. – H.C.

Múcio Teixeira
(1857-1926)

A Estrela dos Magos
(Versão)

Só uma luz do céu podia fazer-lhes
enxergar a regeneração, não de um
só povo, mas da humanidade inteira,
resgatada da escravidão original, que
havia posto em luta a inteligência com
a vontade. E assim apareceu Jesus Cristo,
a segunda pessoa da Santíssima Trindade,
concebido por obra e graça do Espírito Santo.
(Santo Agostinho)

Dorme a Cidade Eterna; – só, Tibério
Sente o fundo temor de insônias tredas...
No leito de marfim, envolto em sedas,
Da púrpura levanta o rosto sério.

E de Belém nas sombras dum recanto,
Por entre as palhas de modesto asilo,
Cheio de amor, destaca-se tranquilo
Perto de mansos bois, um grupo santo.

Ali, Jesus, nuzinho, alvo e formoso,
Esconde os lábios no materno seio;
E São José contempla-o num enleio,
Inclinando a cabeça silencioso.

Um anjo bate as asas sobre flores,
Levando a nova do natal distante...
– Trazendo os seus presentes, num instante,
Batem à porta e entram os pastores.

E longe, ao longe... religiosamente
– Uma estrela seguindo solitários –
Montados em seus grandes dromedários,
Assomam os Reis Magos do Oriente.

A Estrela de Belém
(Carl Spitzweg: pintor alemão)

Referência:

TEIXEIRA, Múcio. A estrela dos magos. In: __________. Terra incógnita: poema. São Paulo, SP: Casa Duprat Editora, 1916. p. 295-296.


Nenhum comentário:

Postar um comentário