Com cinco quadras a reescreverem a história bíblica do nascimento de Jesus,
não saberia dizer, mais precisamente, se este poema é, originalmente, do
escritor e poeta gaúcho ou se trata de uma “versão” – digo, tradução ou
paráfrase – de um outro poema que, de todo modo, não terá sido mencionado na
obra em referência de Múcio.
Afinal, a palavra “versão”, por ele aposta sob o título do poema, também
pode ser interpretada como se o autor quisesse informar ao leitor que o seu
poema é mais uma glosa, sob a forma de poesia, dos fatos narrados na Bíblia.
Como nota particular, faço ver que o poema consta na seção “Os
Precursores” de “Terra Incógnita” (1916) – uma obra permeada por questões
místicas, esotéricas e ocultistas –, junto com outros poemas cujos títulos, em
sua maior parte, são nomes de outros tantos humanos que, a seu ver, seriam
antecessores das mensagens que o livro busca veicular, a exemplo de Hermes
Trimegisto, Moisés, Sócrates, Helena Blavatsky e o próprio Cristo.
J.A.R. – H.C.
Múcio Teixeira
(1857-1926)
A Estrela dos Magos
(Versão)
Só uma luz do céu podia fazer-lhes
enxergar a regeneração, não de um
só povo, mas da humanidade inteira,
resgatada da escravidão original, que
havia posto em luta a inteligência com
a vontade. E assim apareceu Jesus
Cristo,
a segunda pessoa da Santíssima
Trindade,
concebido por obra e graça do Espírito
Santo.
(Santo Agostinho)
Dorme a Cidade
Eterna; – só, Tibério
Sente o fundo temor
de insônias tredas...
No leito de marfim,
envolto em sedas,
Da púrpura levanta o
rosto sério.
E de Belém nas
sombras dum recanto,
Por entre as palhas
de modesto asilo,
Cheio de amor,
destaca-se tranquilo
Perto de mansos bois,
um grupo santo.
Ali, Jesus, nuzinho,
alvo e formoso,
Esconde os lábios no
materno seio;
E São José
contempla-o num enleio,
Inclinando a cabeça
silencioso.
Um anjo bate as asas
sobre flores,
Levando a nova do
natal distante...
– Trazendo os seus
presentes, num instante,
Batem à porta e
entram os pastores.
E longe, ao longe...
religiosamente
– Uma estrela
seguindo solitários –
Montados em seus
grandes dromedários,
Assomam os Reis Magos
do Oriente.
A Estrela de Belém
(Carl Spitzweg:
pintor alemão)
Referência:
TEIXEIRA, Múcio. A estrela dos magos. In:
__________. Terra incógnita: poema. São Paulo, SP: Casa Duprat Editora, 1916.
p. 295-296.
Nenhum comentário:
Postar um comentário