Tudo o que posso afirmar sobre o autor do poema de hoje é que se trata de
um editor e poeta paulista nascido em Taubaté (SP). Além disso, lembro-me de ter
visto algumas de suas traduções na obra “Quatro mil anos de poesia”, uma
coletânea de poemas de autores de origem judaica, organizada por Jacó Guinsburg
e Zulmira Ribeiro Tavares.
Quanto ao poema propriamente dito, vê-se a nítida conexão, no título,
com a famosa máxima do médico e revolucionário argentino Che Guevara: “Hay que
endurecerse, pero sin perder la ternura jamás!”. Numa sucessão de dias a correr
sempre igual, não há chuva capaz de fecundar a terra, alterando a paisagem
ressequida que, no fluir do tempo, deixa de apontar para o futuro, a apenas
submergir na regressão de ontens.
J.A.R. – H.C.
Árvore Ressequida
(Remegio Onia: pintor
filipino)
Minha ternura secou
Minha ternura secou,
Sou chão fendido, ressequido,
Sem condições para
vegetação.
Um dia choverá,
Mas, por ora
Sou chão fendido,
ressequido.
Olho o céu prenhe de
nuvens
E acho que não
choverá nunca.
Pleno da minha
inutilidade
Assisto ao passar dos
dias,
São todos iguais.
Passam virgens,
intocáveis
Para condição de
ontens.
Longe bem distante,
Meus desejos antigos,
Rio-me,
Gravaram-se no vento.
O meu deserto,
Não tem caravanas,
Não tem beduínos,
E não tem oásis.
Da areia estéril
Não espero milagre da
fecundação.
Estou sozinho.
Minha vida é um ontem
que passou,
Suave, sem
estardalhaço.
À minha frente
Há um amanhã provável
E como é triste,
Esperar que ele seja
hoje
E de novo
acrescentá-lo
Ao rol grande de
ontens.
Suave, sem
estardalhaço...
A trilha batida
(Kirsty Wither:
pintora escocesa)
Referência:
ORTIZ, Edgar. Minha ternura secou. In:
__________. 53 poemas de Edgar Ortiz.
São Paulo, SP: Eco, 1957. p. 13-14.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário