A poesia, tal como a matéria, também tem a sua “Lei de Lavoisier”:
nenhuma palavra se perde ou se cria no exercício de se concebê-la, ainda que, no
plano da tangibilidade, a poesia não seja exatamente um elemento palpável,
senão que se desprende do vernáculo empregado pelo vate.
E a mutabilidade é o que se constata nessa vasta delimitação da
linguagem, sempre oleaginosa e sub-reptícia como a vida, como diria o poeta de
Itabira: um cadinho onde se funde tudo quanto é matéria orgânica, para formar
outros tantos elementos, quer na forma de massa caligráfica quer na de
significados.
J.A.R. – H.C.
Carlos de Oliveira
(1921-1981)
Lavoisier
Na poesia,
natureza variável
das palavras,
nada se perde
ou cria,
tudo se transforma:
cada poema,
no seu perfil
incerto
e caligráfico,
já sonha
outra forma.
Em: “Sobre o lado esquerdo” (1968)
O sono da poetisa
(David Hettinger:
pintor norte-americano)
Referência:
OLIVEIRA, Carlos de. Lavoisier. In:
__________. Trabalho poético.
Segundo volume. Lisboa, PT: Sá da Costa, [1976]. p. 23.
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