É o olhar daquele que a contempla ou é a própria beleza que, em sua
forma imanente, tem o poder de se mostrar subversiva? Tudo são valores,
obviamente, e mesmo se poderia afirmar que a inteligibilidade da beleza paira
naquele firmamento infinito do relativismo cultural.
Todavia a beleza – ninguém o objetaria, penso eu! – pode ser
confrontadora, a exemplo da modelo representada na pintura “Olympia” (1863), do
francês Édouard Manet, com aquele olhar acintoso em direção ao observador, para
quem sequer há a necessidade de uma piscadela com o objetivo de convidá-lo a
subir no leito, para usufruir das delícias do sexo!...
J.A.R. – H.C.
Juan Antonio González Iglesias
(n. 1964)
Rara vez la belleza es subversiva
Rara vez la belleza
es subversiva.
Rara vez la hermosura
es calidad moral.
Sólo en el equilibrio
cuando ya no es
belleza transmitida
y
todavía no es belleza
transmisible,
cuando
es sólo mensurable
con las manos
de otro. Y aun así
no siempre el brote
nuevo el miembro nuevo
recibe el
sorprendente regadío
de la savia rebelde.
Rara vez la hermosura
alcanza cualidad de
delincuencia.
Pero cuando sucede
¿cómo no estremecerse
ante el milagro
de la mirada
peligrosa, el guiño
que el instinto ha
enseñado, la cultura
y la naturaleza en
alianza,
movidas a esplendor
dentro de un cuerpo?
Fuera también del
cuerpo. Sobre el mundo.
A la vez luminosa y
destructiva
la hermosura del
héroe
como el rayo
como viva señal de lo
divino.
A Modelo
(Liubov Popova:
artista russa)
Raramente a beleza é subversiva
Raramente a beleza é
subversiva.
Raramente a formosura
é qualidade moral.
Somente no equilíbrio
quando já não é
beleza transmitida
e
ainda não é beleza
transmissível,
quando
é somente mensurável
com as mãos
de outro. E ainda
assim
nem sempre o broto
novo o membro novo
recebe a
surpreendente irrigação
da seiva rebelde.
Raramente a formosura
alcança qualidade de
delinquência.
Mas quando isso
acontece
como não estremecer
ante o milagre
do olhar perigoso, a
piscadela
ensinada pelo
instinto, a cultura
e a natureza em
aliança,
movidas a esplendor
dentro de um corpo?
Fora também do corpo.
Sobre o mundo.
A um só tempo
luminosa e destrutiva
a formosura do herói
como o raio
como um vivo sinal do
divino.
Referência:
IGLESIAS, Juan Antonio González. Rara
vez la belleza es subversiva. In: Poesia
en el campus: revista de poesía. Universidad de Zaragoza, Zaragoza (ES), n.
53, p. 14, mar. 2007.
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