Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 12 de janeiro de 2019

Marin Sorescu - Duas Vezes

Como se estivesse produzindo uma síntese dos princípios do taoísmo, segundo o qual tudo quanto existe expressa a influência de duas forças fundamentais – o yin e o yang –, o poeta romeno vê nas coisas à volta mil exteriorizações da realidade que, sob olhares distintos, deixam-no primeiramente alegre, depois triste.

Outro contraponto à ideia do poema que acorreu-me foram as meditações de Marco Aurélio, o imperador romano e pensador estoico, com aquele matiz de impassibilidade frente às ocorrências do mundo, quer alegres quer tristes. Diz ele: “A morte e a vida, a boa e a má fama, o sofrimento e o prazer, a riqueza e a pobreza, todas essas coisas ocorrem indistintamente aos homens, tanto aos bons quanto aos maus, porque não são nem belas nem vergonhosas, tampouco boas ou más”(*).

J.A.R. – H.C.

Marin Sorescu
(1936-1996)

De Două Ori

Mă uit la toate lucrurile
De două ori.
O dată ca să fiu vesel,
Și o dată ca să fiu trist.

Copacii au un hohot de ras
În coroana de frunze
Și o lacrimă mare
În rădăcină.
Soarele e tânăr
În vârful razelor,
Dar razele lui
Sunt înfipte în noapte.

Lumea se închide perfect
Între aceste două coperți
Unde am îngrămădit toate lucrurile
Pe care le-am iubit
De două ori.

Melancolia
(Edvard Munch: pintor norueguês)

Duas Vezes

Olho todas as coisas
duas vezes:
uma para ficar alegre,
outra para ficar triste.

As árvores têm um alegre sorriso
na coroa de folhas
e uma grande lágrima
na raiz.
O sol é jovem
na ponta dos raios,
mas os seus raios
estão cravados na noite.

O mundo se fecha perfeitamente
entre estas duas cobertas,
onde amontoei todas as coisas
que amei
duas vezes.

Nota:

(*) Excerto final da lucubração nº 11 do Livro II de “Meditações”, de Marco Aurélio.

Referências:

Em Romeno

SORESCU, Marin. De două ori. Disponível neste endereço. Acesso em: 30 nov. 2018.

Em Português

SORESCU, Marin. Duas vezes. Tradução de Luciano Maia. In: __________. Razão e coração: poemas. Tradução de Luciano Maia. São Paulo, SP: Editora Giordano Ltda.; Fortaleza, CE: Biblioteca ‘O Curumim Sem Nome’, 1995. p. 15.

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