O espaço e o tempo são as duas dimensões da realidade sob as quais
estamos condicionados em nossas limitadas experiências de vida. São eles como
os grilhões que nos aprisionam numa cela, nós enquanto princesas ou príncipes
encantados, aspirando pelo momento em que chegaremos às estrelas,
libertando-nos de suas amarras – não há outro meio! – pela morte.
É claro que a Física relativística alterou bastante os nossos conceitos
sobre eventos que ocorrem a velocidades da ordem da velocidade da luz, fazendo com
que o tempo flua a taxas distintas em distintas regiões do espaço: o tempo
passaria mais devagar aos que conseguirem se deslocar a uma grande velocidade.
Mas na média dos eventos de nosso quotidiano, aceleremos o quanto
queiramos os nossos passos em razão das exigências do mundo capitalista à nossa
volta, o máximo que poderemos obter não é envelhecermos mais lentamente, senão,
muito pelo contrário, encontrarmos a morte mais precocemente, abraçando-nos às
estrelas de outro firmamento. (rs)
J.A.R. – H.C.
Amado Nervo
(1870-1919)
Espacio y tiempo
...¡Esta cárcel, estos
hierros
en que el alma está metida!
Santa Teresa
Espacio y tiempo,
barrotes
de la jaula
en que el ánima,
princesa
encantada,
está hilando, hilando,
cerca
de las ventanas
de los ojos (las
únicas
aberturas por donde
suele asomarse,
lánguida).
Espacio y tiempo,
barrotes
de la jaula;
ya os romperéis, y acaso
muy pronto, porque
cada
mes, hora, instante,
os mellan,
¡y el pájaro de oro
acecha una rendija
para tender las alas!
La princesa, ladina,
finge hilar; pero
aguarda
que se rompa una
reja...
En tanto, a las
lejanas
estrellas dice: – Amigas,
tendedme vuestra
escala
de la luz sobre el
abismo...
Y las estrellas
pálidas
le responden: – Espera,
espera, hermana,
y prevén tus
esfuerzos:
ya tendemos la
escala.
Princesa Tarakanova
(Konstantin Flavitsky:
pintor russo)
Espaço e tempo
...Este cárcere, estes ferros
em que a alma está metida!
Santa Teresa
Espaço e tempo,
barras
da cela
em que a ânima,
princesa
encantada,
está fiando, fiando,
próximo
às janelas dos olhos
(as únicas
aberturas por onde
tende a aflorar,
lânguida)
Espaço e tempo,
barras
da cela;
logo as rompereis, e
talvez
de imediato, porque
cada
mês, hora, instante,
corroem-nas
e o pássaro de ouro
perscruta uma fenda
para estender as asas!
A princesa, ladina,
finge fiar; porém
aguarda
que uma grade se
rompa...
Enquanto que às
distantes
estrelas diz: –
Amigas,
estendei-me vossa
escada
de luz sobre o
abismo...
E as estrelas pálidas
lhe respondem: –
Espera,
espera, irmã,
e apresta os teus
esforços:
já estendemos a
escada.
Referência:
NERVO, Amado. Espacio y tiempo. In:
PRADA, Carlos García (Comp.). Poesía de
España y América. Tomo II. Madrid, ES: Ediciones Cultura Hispánica, 1958.
p. 648-649.
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