Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 13 de janeiro de 2019

Amado Nervo - Espaço e tempo

O espaço e o tempo são as duas dimensões da realidade sob as quais estamos condicionados em nossas limitadas experiências de vida. São eles como os grilhões que nos aprisionam numa cela, nós enquanto princesas ou príncipes encantados, aspirando pelo momento em que chegaremos às estrelas, libertando-nos de suas amarras – não há outro meio! – pela morte.

É claro que a Física relativística alterou bastante os nossos conceitos sobre eventos que ocorrem a velocidades da ordem da velocidade da luz, fazendo com que o tempo flua a taxas distintas em distintas regiões do espaço: o tempo passaria mais devagar aos que conseguirem se deslocar a uma grande velocidade.

Mas na média dos eventos de nosso quotidiano, aceleremos o quanto queiramos os nossos passos em razão das exigências do mundo capitalista à nossa volta, o máximo que poderemos obter não é envelhecermos mais lentamente, senão, muito pelo contrário, encontrarmos a morte mais precocemente, abraçando-nos às estrelas de outro firmamento. (rs)

J.A.R. – H.C.

Amado Nervo
(1870-1919)

Espacio y tiempo

...¡Esta cárcel, estos hierros
en que el alma está metida!
Santa Teresa

Espacio y tiempo, barrotes
de la jaula
en que el ánima, princesa
encantada,
está hilando, hilando, cerca
de las ventanas
de los ojos (las únicas
aberturas por donde
suele asomarse, lánguida).

Espacio y tiempo, barrotes
de la jaula;
ya os romperéis, y acaso
muy pronto, porque cada
mes, hora, instante, os mellan,
¡y el pájaro de oro
acecha una rendija para tender las alas!

La princesa, ladina,
finge hilar; pero aguarda
que se rompa una reja...
En tanto, a las lejanas
estrellas dice: – Amigas,
tendedme vuestra escala
de la luz sobre el abismo...

Y las estrellas pálidas
le responden: – Espera,
espera, hermana,
y prevén tus esfuerzos:
ya tendemos la escala.

Princesa Tarakanova
(Konstantin Flavitsky: pintor russo)

Espaço e tempo

...Este cárcere, estes ferros
em que a alma está metida!
Santa Teresa

Espaço e tempo, barras
da cela
em que a ânima, princesa
encantada,
está fiando, fiando, próximo
às janelas dos olhos (as únicas
aberturas por onde
tende a aflorar, lânguida)

Espaço e tempo, barras
da cela;
logo as rompereis, e talvez
de imediato, porque cada
mês, hora, instante, corroem-nas
e o pássaro de ouro
perscruta uma fenda para estender as asas!

A princesa, ladina,
finge fiar; porém aguarda
que uma grade se rompa...
Enquanto que às distantes
estrelas diz: – Amigas,
estendei-me vossa escada
de luz sobre o abismo...

E as estrelas pálidas
lhe respondem: – Espera,
espera, irmã,
e apresta os teus esforços:
já estendemos a escada.

Referência:

NERVO, Amado. Espacio y tiempo. In: PRADA, Carlos García (Comp.). Poesía de España y América. Tomo II. Madrid, ES: Ediciones Cultura Hispánica, 1958. p. 648-649.

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