Numa situação que se presume de aprisionamento em sua África natal, nas
ilhas de Cabo Verde em específico, o poeta sonha com o dia, talvez, no qual uma
pedrada estilhace a gaiola de vidro onde detido está, permitindo-lhe fugir,
juntamente com os demais enclausurados, para o além-mar.
Sobrevirá, então, uma hecatombe natural, com poder para eclodir vulcões
a ejetar bastante lava, provocando muita aflição àqueles que ousarem ali
permanecer. Quando tudo terminado, que se reconstruam as cidades rumo ao
desenvolvimento, com novas estruturas de concreto e aço, pondo fim aos pilões –
que se converterão em moinhos.
J.A.R. – H.C.
Arménio Vieira e Silva
(n. 1941)
Poema
Talvez um dia
Quem sabe!...
Sim
talvez um dia...
pedra jogada
à nossa gaiola de
vidro
e para nós
a fuga
além fronteira do mar.
Talvez arrebente um
dia
o búzio dos mistérios
no fundo do mar
e mais um vulcão
venha à tona
– dez vinte
mil vulcões – Quem
sabe!...
e as ilhas fiquem
derretidas:
Estranha alquimia
de montes e árvores
de lavas e mastros
de gestos e gritos.
Talvez um dia
onde é seco o vale
e as árvores
dispersas
haja rios e
florestas.
E surjam cidades de
aço
e os pilões se tornem
moinhos.
Ilhas renascidas
nuvens libertas...
Talvez um continente
À medida dos nossos
desejos.
Sim
talvez um dia...
Quem sabe!
A caravela ao pôr do sol
(Rob Gonsalves:
pintor canadense)
Referência:
VIEIRA E SILVA, Arménio. Poema. In:
ANDRADE, Garibaldino de; COSME, Leonel (Dir.). Mákua 1: antologia poética. Sá da Bandeira, AO: Publicações
Imbondeiro; Gráfica da Huila Ltda., 1962. p. 21-22.
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