Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Arménio Vieira e Silva - Poema

Numa situação que se presume de aprisionamento em sua África natal, nas ilhas de Cabo Verde em específico, o poeta sonha com o dia, talvez, no qual uma pedrada estilhace a gaiola de vidro onde detido está, permitindo-lhe fugir, juntamente com os demais enclausurados, para o além-mar.

Sobrevirá, então, uma hecatombe natural, com poder para eclodir vulcões a ejetar bastante lava, provocando muita aflição àqueles que ousarem ali permanecer. Quando tudo terminado, que se reconstruam as cidades rumo ao desenvolvimento, com novas estruturas de concreto e aço, pondo fim aos pilões – que se converterão em moinhos.

J.A.R. – H.C.

Arménio Vieira e Silva
(n. 1941)

Poema

Talvez um dia
Quem sabe!...

Sim
talvez um dia...
pedra jogada
à nossa gaiola de vidro
e para nós
a fuga
além         fronteira do mar.

Talvez arrebente um dia
o búzio dos mistérios
no fundo do mar
e mais um vulcão venha à tona
– dez vinte
mil vulcões – Quem sabe!...
e as ilhas fiquem derretidas:
Estranha alquimia
de montes e árvores
de lavas e mastros
de gestos e gritos.

Talvez um dia
onde é seco o vale
e as árvores dispersas
haja rios e florestas.
E surjam cidades de aço
e os pilões se tornem moinhos.

Ilhas renascidas
nuvens libertas...
Talvez um continente
À medida dos nossos desejos.

Sim
talvez um dia...
Quem sabe!

A caravela ao pôr do sol
(Rob Gonsalves: pintor canadense)

Referência:

VIEIRA E SILVA, Arménio. Poema. In: ANDRADE, Garibaldino de; COSME, Leonel (Dir.). Mákua 1: antologia poética. Sá da Bandeira, AO: Publicações Imbondeiro; Gráfica da Huila Ltda., 1962. p. 21-22.

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