Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 26 de janeiro de 2019

Edmundo de Bettencourt - Cinema

O poeta canta loas ao cinema, naquilo que é capaz de enlevar o telespectador, por imagens e por músicas, trazendo as mais diversas mensagens em seu enredo – e é claro, não nos enganemos!, mesmo aquelas de cunho sub-reptício, isto porque estamos falando de um dos principais produtos da denominada “indústria cultural”.

Tem-se ainda a pontuar as limitações que a linguagem do cinema possui frente à do texto literário: raras vezes as adaptações, para a grande tela, de renomadas obras da literatura mundial resultam em filmes à altura da história em que se baseiam, em razão, sobretudo, da escolha que os cineastas fazem das cenas “mais importantes” das obras transpostas – eleição que, como se poderia suspeitar, passa pelo domínio das idiossincrasias –, afinal, tudo deverá ser recontado num lapso máximo de duas a três horas!

J.A.R. – H.C.

Edmundo de Bettencourt
(1889-1973)

Cinema

No meu olhar,
de gosto,
ritmo,
aroma
e seda,
com ele,
por mágica alameda
eu sonho ir ao espaço das visões,
que rolam como os mundos,
numa sagrada música visível,
onde eu me dispersaria...

Ó Cinema, ó maravilha
em que eu me possuiria,
mas que apenas possuo
da sombra,
na viva solidão da multidão quieta,
entre as carícias do silêncio ao pensamento,
sem esforço levado
a sofrer, a sentir
o que de eterno há num momento!

Em ti, a vida,
mais viva porquanto mais alada
em fantasia livre,
sem noites e sem dias,
brutal ou delicada,
é síntese movendo-se
em transcendência de tristezas e alegrias,
numa calma final de nuvens macias como penas,
que tempestades não consomem,
de encontro ao metálico recorte
das projecções estéticas do homem!

Cinema!
mais que tudo, és
o que lá fora buscam almas inquietas!
Mais que tudo, nos dás
o sonho que das almas sobe
nas imagens dos poetas!

Em: “O Momento e a Legenda” (1917-1930)

Lady Elizabeth Murray e Dido Elizabeth Belle
(Autoria Desconhecida)

Referência:

BETTENCOURT, Edmundo de. Cinema. In: __________. Poemas: 1930-1962. Lisboa, PT: Portugália, dez/1963. p. 41-43. (Coleção ‘Poetas de Hoje’; v. 14)

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