Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Francisco Igreja - Autopsicografia II

Gonçalves, como Pessoa, nasceu em Portugal, embora, depois, tenha se naturalizado brasileiro. E são dele estes versos que parodiam os do famoso antecessor – Autopsicografia –, a mostrar aquele lado de fingimento na dor expressada pelos poetas, a cada vez que se põem a escrever poesias entre as regiões confinantes à razão e à emoção.

E se em Fernando Pessoa essa manifestação psicográfica se exterioriza nos escritos de seus heterônimos – Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Fernando Pessoa ele próprio, entre os principais –, em Gonçalves tal fingimento aproxima o poeta da marginalidade, lá onde as identidades se tornam férteis e jocosas, em autêntica jornada à irrealidade do cotidiano.

J.A.R. – H.C.

Francisco Igreja Gonçalves
(n. 1949)

Autopsicografia II

o poeta é um marginal
mas tão marginalizado
que não aceita que tal
nome lhe seja aplicado

e os que se identificam
com tal marginalidade
se enganam: poetas brincam
fingindo identidade

e no viver enganoso
tudo se finge igual
tudo se faz bem jocoso
nesse existir irreal

Sem Título
(Josiane Pape: pintora francesa)

Referência:

IGREJA, Francisco. Autopsicografia II. In: SAVARY, Olga (Organização, seleção, notas e apresentação). Antologia da nova poesia brasileira. Rio de Janeiro, RJ: Fundação Rio / Hipocampo, 1992. p. 111.

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