Há a expressão de um desejo neste poema de Pavese: o de ter alguém com
quem possa compartilhar a jornada – por isso a procura por uma companheira numa
“praça deserta”. Mas persiste, por trás de qualquer primeira impressão que os
versos possam denotar, a sensação de que o poeta esteja mesmo é ratificando a
tese de que o homem contemporâneo predispõe-se à solidão, haja vista que a
sua existência é caracterizada por certo desconforto que, por vezes, o leva ao
absurdo do suicídio – aliás, como o cometeu o próprio Pavese.
Esse homem que percorre as ruas o dia todo, depois de uma lida cansativa
e taciturna, é a face oposta do menino, que “escapa de casa”, indolente que é, em
fuga do trabalho para buscar o prazer da ociosidade. No retorno para casa,
pergunta-se: “Vale a pena ser só para ser sempre mais só?”.
J.A.R. – H.C.
Cesare Pavese
(1908-1950)
Lavorare stanca
Traversare una strada
per scappare di casa
lo fa solo un
ragazzo, ma quest’uomo che gira
tutto il giorno le
strade, non è più un ragazzo
e non scappa di casa.
Ci sono d’estate
pomeriggi che fino le
piazze son vuote, distese
sotto il sole che sta
per calare, e quest’uomo, che giunge
per un viale
d’inutili piante, si ferma.
Val la pena esser
solo, per essere sempre più solo?
Solamente girarle, le
piazze e le strade
sono vuote. Bisogna
fermare una donna
e parlarle e
deciderla a vivere insieme.
Altrimenti, uno parla
da solo. È per questo che a volte
c’è lo sbronzo
notturno che attacca discorsi
e racconta i progetti
di tutta la vita.
Non è certo
attendendo nella piazza deserta
che s’incontra
qualcuno, ma chi gira le strade
si sofferma ogni
tanto. Se fossero in due,
anche andando per
strada, la casa sarebbe
dove c’è quella donna
e varrebbe la pena.
Nella notte la piazza
ritorna deserta
e quest’uomo, che
passa, non vede le case
tra le inutili luci,
non leva più gli occhi:
sente solo il
selciato, che han fatto altri uomini
dalle mani indurite,
come sono le sue.
Non è giusto restare sulla
piazza deserta.
Ci sarà certamente
quella donna per strada
che, pregata,
vorrebbe dar mano alla casa.
O Homem Solitário
(Munir Alawi: artista
palestino)
Trabalhar cansa
Atravessar uma rua
para escapar de casa
só o faz o menino,
mas este homem que gira
o dia todo pelas ruas
não é mais um menino
e não escapa de casa.
O verão tem tardes
que até as praças são
vazias, vastas
sob o sol que vai se
pondo, e este homem, que chega
por uma avenida de
inúteis plantas, para.
Vale a pena ser só
para ser sempre mais só?
Somente contorná-las,
as praças e as ruas
estão vazias. É
preciso abordar uma mulher
e falar-lhe e
decidi-la a viver juntos.
De outro modo, se
fala sozinho. É por isso que às vezes
se encontra o bêbado
noturno que faz discursos
e conta os projetos
da vida toda.
Não é certamente
esperando na praça deserta
que se encontra
alguém, mas quem gira pelas ruas
para de vez em
quando. Se fossem em dois,
mesmo que andando
pela rua, a casa seria
onde está aquela
mulher e valeria a pena.
De noite, a praça
volta a ser deserta
e este homem que
passa não vê as casas
entre inúteis luzes,
não ergue mais os olhos:
sente só o calçamento
que fizeram outros homens
de mãos endurecidas
como as suas.
Não é justo restar na
praça deserta.
Existirá certamente
aquela mulher pela rua
que se suplicada
ajudaria em casa.
(Tradução publicada em “Folhetim” em
3.4.1983)
Referências:
Em italiano:
PAVESE, Cesare. Lavorare stanca. In:
__________. Lavorare stanca. Torino,
IT: Einaudi, 1977. p. 80-81.
Em Português
PAVESE, Cesare. Trabalhar cansa.
Tradução de Maria Betânia Amoroso. In: SUZUKI JR., Matinas; ASCHER, Nelson (Organizadores).
Folhetim: poemas traduzidos. São
Paulo, SP: Folha de São Paulo, 1987. p. 158-159.
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