Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Enrique Badosa - Arte Poética

Qual o poeta que nunca teorizou sobre o seu próprio mister? Temos aqui o espanhol Badosa a discorrer sobre o que lhe parece ser, em última instância, a arte poética, uma recorrência sempre a levar em consideração o que se pode fazer com as mãos, em especial, a inarredável hipótese de que nos permitem compulsar os livros.

No derradeiro verso da sexta e última estrofe, o poeta vislumbra a possibilidade de se envelhecer com “Deus entre as mãos” e, decerto, com isso, reporta-se ao fato de que as pessoas mais velhas são as guardiãs dos livros sagrados, como a Bíblia, da qual extraem prazer em leituras como as do Eclesiastes, do livro da Sabedoria ou dos provérbios de Salomão.

J.A.R. – H.C.

Enrique Badosa
(n. 1927)

Arte Poética

...que dure más el arte
que la naturaleza.
Lope de Vega

Dibujar nuevas islas en los mapas,
saber quedarse solo y saber ir
junto con los demás, y preguntarse
qué debemos hacer con nuestras manos.

Escuchar lo que es bueno y habla bien,
vivir la libertad con los amigos
y poder, para siempre, ser un hombre
que lleva un libro abierto entre las manos.

Buscar con mis palabras la palabra,
cansarme, levantarme y merecer
el pan, la sal y el agua cada dia,
y un justo bienestar para otras manos.

Ganar el buen amor y conversar,
tener silêncios pulcros y leales,
y ser libres amando y presintiendo
que los hijos nos cogen de la mano.

Saber que no estoy solo en la tristeza,
que tampoco estoy solo en la alegria,
y que también a mí puede alcanzarme
la mala soledad sobre las manos.

Pensar constantemente todo aquello
que ya no tendré tiempo de escribir,
tomar un libro nuevo y esperar
y envejecer, con Dios entre las manos.

Mãos da Paz
(Dalene McIntosh: pintora sul-africana)

Arte Poética

...que a arte dure mais
que a natureza.
Lope de Vega

Desenhar novas ilhas nos mapas,
saber ficar sozinho e saber ir
junto com os demais, e perguntar-se
o que devemos fazer com nossas mãos.

Escutar aquele que é bom e fala bem,
viver a liberdade com os amigos
e poder, para sempre, ser um homem
que leva um livro aberto entre as mãos.

Buscar com minhas palavras a palavra,
cansar-me, levantar-me e merecer
o pão, o sal e a água de cada dia,
e um justo bem-estar para outras mãos.

Ganhar o bom amor e conversar,
ter silêncios limpos e leais,
e ser livre amando e pressentindo
que os filhos nos levam pela mão.

Saber que não estou sozinho na tristeza,
que tampouco estou sozinho na alegria,
e que também a má solidão pode
vir a alcançar-me pelas mãos.

Pensar constantemente em tudo aquilo
que já não terei tempo de escrever,
tomar um livro novo e esperar
e envelhecer, com Deus entre as mãos.

Referência:

BONALD, José Manuel Caballero. Arte poética. In: MORALES, María Luz (Selección, prólogo y notas biográficas). Libro de oro de la poesía en lengua castellana: España y América. Segunda parte: siglo XX. Tomo II. 2. ed. Barcelona, ES: Editorial Juventud, 1984. p. 1275-1276. (‘Libros de Bolsillo Z’; n. 179)

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