Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

António Gedeão - Tempo de Poesia

O tempo de poesia, segundo o poeta lusitano, é qualquer tempo entre as antinomias que costumam configurar a realidade: de paz ou combate; de frio ou quente; de amor ou discórdia; de aliança ou vingança. Afinal, a poesia não pode desconsiderar o que se passa em nossas lidas, da madrugada ao ocaso.

Com efeito, há poesia no verso compromissado, voltado à defesa da dignidade da pessoa humana; do mesmo modo, a poesia se manifesta na fluidez dos fatos da natureza, sem valorações que não sejam as que nos passam pela mente. A beleza contida em cada uma dessas modalidades de poesia é o mote de que os poetas lançam mão para torná-la imprescindível em nosso quotidiano, como o ar que se respira!

J.A.R. – H.C.

António Gedeão
(1906-1997)

Tempo de Poesia

Todo o tempo é de poesia.

Desde a névoa da manhã
à névoa do outro dia.

Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia.

Todo o tempo é de poesia.

Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.
Corpos que em sangue soçobram
Vidas que a amar se consagram

Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem vingança.
Sob o arco da aliança
da celeste alegoria.

Todo o tempo é de poesia.

Desde a arrumação do caos
à confusão da harmonia.

Em: “Movimento Perpétuo” (1956)

Número 1
(Jackson Pollock: pintor norte-americano)

Referência:

GEDEÃO, António. Tempo de poesia. In: __________. Poesias completas: 1956-1967. 7. ed. Lisboa, PT: Portugália, 1978. p. 31-32. (Coleção ‘Poetas de Hoje’; v. 17)

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