Mesmo nos rituais da Igreja se percebem as diferenças sociais entre os
ricos e os pobres, haja vista que se tornam ostensivas, a começar pelas formas
tradicionais de se encaminhar a cerimônia fúnebre.
Numa, a cruz é de madeira; noutra é dourada. Numa, as coisas se
processam com celeridade; noutra os sacramentos se prolongam, com vagar, pelas
ruas até o campo santo. E a despeito das distinções, os pobres veem as exéquias
dos mais abastados com olhar encantado!
J.A.R. – H.C.
Robert Creeley
(1926-2005)
After Lorca
for M. Marti
The church is a
business, and the rich
are the business men.
When they pull on the
bells, the
poor come piling in
and when a poor man dies,
he has a wooden
cross, and they rush
through the ceremony.
But when a rich man
dies, they
drag out the
Sacrament
and a golden Cross,
and go doucement, doucement
to the cemetery.
And the poor love it
and think it’s crazy.
Um Enterro em Ornans
(Gustave Courbet:
pintor francês)
Ao modo de Lorca
para M. Marti
A Igreja é um
negócio, e os ricos
são os homens de
negócios.
Quando repicam os
sinos, os
pobres vêm e se amontoam
e, morrendo um deles,
reservam-lhe uma cruz
de madeira, e dão cumprimento
célere à cerimônia.
Porém se morre um
rico,
prolongam o
Sacramento,
dedicam-lhe uma Cruz
dourada e seguem
doucement, doucement
para o cemitério.
E os pobres ficam
encantados
e julgam o máximo.
Referência:
CREELEY, Robert. After Lorca. In: HOOVER,
Paul (Ed.). A postmodern american poetry: a norton anthology. New York,
NY: W. W. Norton & Company Inc., 1994. p. 144.
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