Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 19 de agosto de 2017

George Santayana - Solipsismo

Santayana retrata-se como um solipsista, para quem, estando sozinho, tudo gira à sua volta, como consequência de seus sonhos; um deus solitário que imagina o mundo e os acontecimentos da vida fantasiosamente articulados com o seu próprio conhecer.

No fundo, Santayana tem na criação poética uma de suas razões de ser, uma espécie de consolo para os seus próprios pesares que, de outro modo, circulariam restritivamente na própria mente do poeta, sem possibilidades de ressonância em outras mentes.

J.A.R. – H.C.

George Santayana
(1863-1952)

Solipsism

I could believe that I am here alone,
And all the world my dream;
The passion of the scene is all my own,
And things that seem but seem.

Perchance an exhalation of my sorrow
Hath raised this vaporous show,
For whence but from my soul should all things borrow
So deep a tinge of woe?

I keep the secret doubt within my breast
To be the gods’ defence,
To ease the heart by too much ruth oppressed
And drive the horror hence.

O sorrow that the patient brute should cower
And die, not having sinned!
O pity that the wild and fragile flower
Should shiver in the wind!

Then were I dreaming dreams I know not of,
For that is part of me
That feels the piercing pang of grief and love
And doubts eternally.

But whether all to me the vision come
Or break in many beams,
The pageant ever shifts, and being’s sum
Is but the sum of dreams.

Pesadelo
(Gus Bawab: pintor kuwaitiano)

Solipsismo

Poderia acreditar que estou aqui sozinho,
E todo o mundo como efeito de meu sonho;
Inteiramente minha é a paixão da cena,
E coisas semelhantes não vão além das aparências.

Talvez uma exalação de meu pesar
Tenha guindado esse vaporoso espetáculo,
Pois de onde, senão de minh’alma, todas as coisas
obrigam-se a emprestar matiz tão profundo de desgosto?

A dúvida secreta mantenho-a dentro do peito
Para ser a salvaguarda dos deuses,
Para aliviar o coração de tanta compaixão oprimida
E distanciar o horror deste lugar.

Oh tristeza, que o rude sofredor deva acanhar-se
E sucumbir, mesmo não havendo pecado!
Oh tormento, que a flor frágil e selvagem
Deva estremecer ao vento!

Estava eu então em meio a sonhos dos quais não me apercebia
Pois tudo isso é a parte de mim
Que sente a aguda tribulação da dor e do amor
E das eternas dúvidas.

Mas quer a visão tudo para mim alcance,
Quer se fragmente em muitos fanais,
O espetáculo jamais se altera,
E a soma do ser não é mais do que a soma dos sonhos.

Referência:

SANTAYANA, George. Solipsism. In: AIKEN, Conrad (Ed.). Twentieth-century american poetry. New York (NY): Random House Inc., 1944. p. 42-43. (‘The Modern Library’)

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