Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Kabir - Poema nº 68‎

O grande poeta místico indiano emprega um paradoxo para fazer distinção entre o estado de um ser humano que ainda não pôs fim ao domínio de seu ego e o de outro que já logrou neutralizar os sofrimentos que os desejos suscitam. Assim, é ele o ser que, estando morto, segue vivo, por haver atingido um nível superior de consciência.

No domínio natural magistralmente traçado por Kabir, percebe-se o contraste entre as entidades que povoam o mundo por meio da simples expressão do ser, e o homem, que, com sua vontade mutante, não é senão a expressão daquilo que poderá vir a ser; uma potencialidade, portanto!

P.s.: Como já informado em outra postagem, a obra em referência não possui numeração em suas páginas, motivo pelo qual faz-se referência tão apenas ao número do poema transcrito – nº 68, no caso presente.

J.A.R. – H.C.

Kabir
(1440-1518)

Poema nº 68

Ouço sussurrar sua flauta,
E já não consigo me conter.
Ainda não chegou a primavera,
E as flores irrompem dos botões,
Chamando as abelhas ao festim.

O relâmpago risca o céu,
O trovão estrondeia e reverbera,
A chuva se traduz em aguaceiro,
As ondas se elevam, batem forte:
Deixo a casa em busca do Senhor.

Onde existe ritmo neste mundo,
Lá já percutiu meu coração.
Onde ocultas bandeiras esvoaçam,
Lá já sopraram meus suspiros.
Estou morto. Todavia sigo vivo.

O Despontar da Manhã no Lago ‘George’
(Jasper Francis Cropsey: pintor norte-americano)

Referência:

KABIR (1440-1518). Kabir: cem poemas. Seleção e tradução ao inglês de R. Tagore. Tradução, ensaios e notas de José Tadeu Arantes. São Paulo: Attar, 2013.

Um comentário:

  1. Uma observação com respeito à paginação da obra de onde foram extraídos os poemas acima: verifiquei, com um certo atraso, que há numeração nas páginas do livro apenas nas partes que precede os poemas (até a página 26) e que os sucede (da página 131 até 135).
    Nesse sentido, pode-se obter a página onde inserto o aludido poema, a saber: Poema nº 68 - p. 96.
    João A. Rodrigues

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