A poetisa associa o aspecto estriado, oblíquo e opressivo da luz nas
tardes de inverno ao sólido eco dos sinos das catedrais, carregando a atmosfera
de elementos opressivos, que se refletem visceralmente em suas emoções.
Como se nota, a associação parte de uma opressão com efeitos visuais a
outra com repercussões sonoras, mas ambas a nos recordar da finitude de nossas
existências e dos mistérios incognoscíveis que as envolvem.
Se as aflições são-nos encaminhadas dos céus, fazendo-nos sustar a
respiração, resta-nos mitigá-las e transformá-las em beleza, porquanto, a
julgar pela máxima do livro de Rubem Alves, “ostra feliz não faz pérola”.
J.A.R. – H.C.
Emily Dickinson
(1830-1886)
There’s a certain Slant of light
There’s a certain
Slant of light,
Winter Afternoons –
That oppresses, like
the Heft
Of Cathedral Tunes –
Heavenly Hurt, it
gives us –
We can find no scar,
But internal
difference,
Where the Meanings,
are –
None may teach it –
Any –
’Tis the Seal Despair
–
An imperial
affliction
Sent us of the Air –
When it comes, the
Landscape listens –
Shadows – hold their
breath –
When It goes, ’tis
lIke the Distance
On the look of Death –
Tarde de Inverno
(Willard L. Metcalf:
pintor norte-americano)
Há uma certa inclinação da luz
Há uma certa
inclinação da luz,
Nas tardes hibernais,
Que oprime, como o
peso
Do eco dos sinos nas
catedrais.
Ferida celestial ela
nos dá.
Não podemos achar a
cicatriz,
Mas a diferença
interna,
Do que tem sentido,
lá está.
Ninguém pode
ensiná-la – ninguém.
Ela é a marca do
desespero –
Uma agonia imperial
Que nos é enviada do
ar.
Quando ela vem, a
paisagem escuta;
As sombras prendem a
respiração.
Quando ela vai, é
como a distância
No ar da morte.
Referências:
Em Inglês
DICKINSON, Emily. There’s a certain slant
of light. In: __________. The complete
poems of Emily Dickinson. Edited by Thomas H. Johnson. Boston, MA: Little,
Brown and Company, 1960. p. 118-119.
Em Português
DICKINSON, Emily. Há uma certa
inclinação da luz. Tradução de Vera das Neves Pedroso. In: JOHNSON, Thomas H. Mistério e solidão: a vida e a obra de
Emily Dickinson. Tradução de Vera das Neves Pedroso. 1. ed. Rio de Janeiro, GB:
Lidador, 1965. p. 200-201.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário