Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Antero de Quental - O Palácio da Ventura

Quental, em sonhos, sente-se um autêntico paladino do amor, ao modo do nobre cavaleiro da triste figura: avança, confiante e resoluto como Quixote, em direção a um palácio venturoso, que só existe em sua imaginação.

Lá chegando, abrem-se as portas d’ouro. E eis que perscrutando o que dentro se encontra, defronta-se com o mais absoluto desencanto, pois somente silêncio e escuridão o habitam, como que a convalidar a ideia de que o espírito humano, mesmo quando em busca da verdade ou a felicidade, nem sempre logrará êxito.

J.A.R. – H.C.

Antero de Quental
(1842-1891)

O Palácio da Ventura

Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!

Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!

Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas d’ouro, ante meus ais!

Abrem-se as portas d’ouro com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão – e nada mais!

Dom Quixote e os Moinhos
(Armando Romanelli: artista brasileiro)

Referência:

QUENTAL, Antero de. O palácio da ventura. In: __________. Sonetos. 4. ed. Lisboa, PT: Sá da Costa, 1972. p. 80.

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