Quental, em sonhos, sente-se um autêntico paladino do amor, ao modo do nobre
cavaleiro da triste figura: avança, confiante e resoluto como Quixote, em
direção a um palácio venturoso, que só existe em sua imaginação.
Lá chegando, abrem-se as portas d’ouro. E eis que perscrutando o que dentro
se encontra, defronta-se com o mais absoluto desencanto, pois somente silêncio
e escuridão o habitam, como que a convalidar a ideia de que o espírito humano,
mesmo quando em busca da verdade ou a felicidade, nem sempre logrará êxito.
J.A.R. – H.C.
Antero de Quental
(1842-1891)
O Palácio da Ventura
Sonho que sou um
cavaleiro andante.
Por desertos, por
sóis, por noite escura,
Paladino do amor,
busco anelante
O palácio encantado
da Ventura!
Mas já desmaio,
exausto e vacilante,
Quebrada a espada já,
rota a armadura...
E eis que súbito o
avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea
formosura!
Com grandes golpes
bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o
Deserdado...
Abri-vos, portas d’ouro,
ante meus ais!
Abrem-se as portas d’ouro
com fragor...
Mas dentro encontro
só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão –
e nada mais!
Dom Quixote e os Moinhos
(Armando Romanelli:
artista brasileiro)
Referência:
QUENTAL, Antero de. O palácio da
ventura. In: __________. Sonetos. 4.
ed. Lisboa, PT: Sá da Costa, 1972. p. 80.
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