Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Vicente Aleixandre - Felicidade, não enganas

O poeta não se engana sobre os desígnios do homem, em meio a todas as promessas de felicidade ainda neste mundo: ao final da existência, os lábios retêm apenas o sabor amargo da memória e do esquecimento.

Tal e a suma eclesiástica do ser humano sobre a terra: “O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol (EC 1:9). (...) Assim que tenho visto que não há coisa melhor do que alegrar-se o homem nas suas obras, porque essa é a sua porção; pois quem o fará voltar para ver o que será depois dele? (EC 3: 22)”.

J.A.R. – H.C.

Vicente Aleixandre
(1898-1984)

Felicidad, no engañas

Felicidad, no engañas.
Una palabra fue o sería, y dulce
quedó en el labio. Algo
como un sabor
a miel, quizás
aún más a sal
marina. A agua de mar, o a verde fresco
de la campiña. Quizás a gris robusto
del granito o poder, que allí tentaste.

La gravedad del mundo está ostensible
ante tus ojos. No. No busques
por tu labio el color rubio del beso
que es miel, con su amargor que puede
sobrevivir. Vivir o no vivir no es ignorar
una verdad. El labio sólo sabe
a su final sabor: memoria,
olvido.

En: “Poemas de la consumación” (1968)

Pôr do sol sobre o mar
(Pierre-Auguste Renoir: pintor francês)

Felicidade, não enganas

Felicidade, não enganas.
Uma palavra foi ou seria, e doce
ficou no lábio. Algo
como um sabor
a mel, talvez
ainda mais a sal
marinho. A água do mar, ou a verde fresco
da campina. Talvez a cinza robusto
do granito ou poder, que ali tentaste.

A gravidade do mundo está ostensível
ante os teus olhos. Não. Não busques
por teu lábio a cor dourada do beijo
que é mel, com seu amargor que pode
sobreviver. Viver ou não viver não é ignorar
uma verdade. O lábio somente sabe
a seu final sabor: memória,
esquecimento.

Em: “Poemas da consumação” (1968)

Referência:

ALEIXANDRE, Vicente. Felicidad, no engañas. In: VARIOS. Edición, introducción, notas, comentarios y apéndice de Esperanza Ortega. Antología de la generación del 27. Madrid, ES: Anaya, 1987. p. 101. (Biblioteca Didáctica Anaya; v. 23)

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